O Camarada de Cesare Pavese
Um dos grandes escritores italiano da
primeira metade do século XX, Cesare Pavese (1908-1950) viveu os tempos
atribulados da subida ao poder de Benito Mossolini em 1922, da ditadura
fascista, da II Grande Guerra e da resistência.
Radicam nessa intensa vivência pessoal, que o
levou à prisão, muitos dos temas que preenchem a obra literária de Pavese.
Em O Camarada, que se passa na segunda metade
dos anos 30 do século XIX, em plena Guerra Civil Espanhola e ainda antes de
começar a Guerra Mundial, encontramos temas com a repressão policial sobre os
oposicionistas, o medo instalado na sociedade italiana, a pobreza de largas
camadas da população, as diferenças regionais entre Turim, Génova e Roma, as
relações entre homens e mulheres, o lento acordar da consciência política e da
resistência mais esclarecida.
Acompanhamos o despertar de um jovem
guitarrista de alcunha Pablo e a sua aventura migratória desde a sua tristonha
Turim natal até à exuberante e festiva capital.
A habilidade de desenhar ambientes
simultaneamente psíquicos, naturais e circunstanciais (“Foi assim que começamos
a falar do seu passado e que me contou muitas coisas, cada vez mais tristes. Era
para irmos ao cinema, mas acabamos por não ir. Compramos castanhas assadas e
passeámos ao longo do Pó. Anoitecia, os candeeiros já estavam acesos e
desejaria que aquele momento nunca mais passasse…”), as imagens fortes e claras
(“Tinha um gato dentro do sangue, que me dilacerava com as garras”), tornam a
escrita de Pavese bela e atrativa.
A reflexão social eivada de fino humor esta
sempre presente como neste diálogo - “Estiveste no hospital – perguntei. –
Tomara eu! Mas não aceitam gente que coma…”.
A questão política é analisada pelo prisma do
sacrifício que os militantes clandestinos fazem em prol dos seus semelhantes (“Para
que todos tenham uma vida melhor, começam vocês por estar pior”) e do marxismo
(“Não é verdade que, em síntese, o marxismo consiste em ver as coisas tal como
são e providenciar para que sejam como devem ser?”).
Apesar da mensagem intrinsecamente
progressista O Camarada contem uma frase desnecessária para a narrativa mas
muito infeliz que resvala para um racismo inaceitável sobre uma dançarina negra
de um clube noturno.
Cesare Pavese foi membro do Partido Comunista
Italiano até à sua morte e trabalhou na redação do jornal Unitá. Suicidou-se em
Turim aos 41 anos na sequência de uma depressão ocasionada por um desgosto
amoroso. Pouco antes recebera o prestigiado prémio literário Premio Stanza pelo
seu livro “A bela Estação” publicada em 1949.
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