sexta-feira, 24 de maio de 2024

Um pássaro no Arame


 

Um pássaro no Arame de Manuel Alberto Vieira

 

Uma escrita hermética, violenta, fotogénica, cheia de metáforas surrealistas, que dificultam uma leitura fluida e ininterrupta. A trama ténue, quase inexistente, com base em personagens fugazes, perturbadas, psicóticas, que se movem num ambiente sombrio, triste, violento e claustrofóbico, avança caoticamente através de pequenos instantâneos.

 

Reconhecemos a explosão de uma família, em que os membros, como estilhaços projetados a alta velocidade por uma detonação desconhecida, ainda que partilhando a proximidade de uma refeição, habitam já mundos diferentes e impenetráveis pelos outros.

 

A escrita de Manuel Alberto Vieira gera perplexidade e dúvidas. Algumas frases e expressões surpreendem e agradam, como “uma casa que chora”, “prime o botão da máquina avariada”, mas o recurso permanente aos verbos ser/estar, como verbos auxiliares, diminui a qualidade da escrita.

 

Manuel Alberto Vieira (n. 1979), artista multifacetado, tradutor, romancista, poeta, fotografo, representa uma esperança na Literatura portuguesa contemporânea. Um escritor em progresso.  

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Amor


 

Amor por Mário António

 

Uma pequena recolha de poesias organizados em torno da temática do Amor. Ao todo apenas seis poemas, escritos em 1956-1957 e editados em 1960.

 

Uma enorme riqueza vocabular sem, contudo e felizmente, recorrer a vocábulos impenetráveis, um ritmo marcado, uma estonteante profusão de imagens e metáforas, o recurso a diferentes estruturas incluindo o clássico soneto.

 

Em “a construção do amor” encontramos uma interessante reflexão sobre a efemeridade da memória, que se esvai com o tempo, “a memória não garante o sinal das queimaduras”; e as falsas memórias construídas por nós, “Acaricio a lembrança insustentável / modelo-a pouco a pouco…”.

 

Encontramos também o recurso ao francês como língua auxiliar “Viens, colombe, pousa sobre os meus /[dedos-galhos”, mas também às línguas africana em termos como “machimbombo” e “henda i xala”.

 

Mário António Fernandes de Oliveira (1934-1989), poeta, historiador e ensaísta angolano, membro do Partido Comunista Angolano e mais tarde do MPLA. Doutorado Literaturas Africanas foi Professor na Universidade Nova e diretor do Serviço de Cooperação da Fundação Gulbenkien. Deixou uma vasta e preciosa obra.