quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A luta de tendências no movimento estudantil pré-25 de Abril


 

A luta de tendências no movimento estudantil pré-25 de Abril de José Manuel Jara

 

A luta estudantil antes do 25 de Abril, no final dos anos 1960 e no início dos anos 1970 centrou-se em duas frentes: a luta contra o regime fascista e a luta de fações no interior das escolas e faculdades. Nesta época, fruto da cisão do movimento comunista internacional, entre a URSS e a China, emergiram diversos grupos de cariz maoista que se opunham entre si e aos estudantes comunistas organizados na UEC.

 

Este livro, escrito por um então destacado dirigente da associação de estudantes de Medicina de Lisboa relata os tristes episódios divisionistas quando foi falsamente acusado de ser um provocador pelo grupo da fação “por um ensino popular” liderada por Ferraz de Abreu da Associação da Faculdade de Ciências. A luta pela hegemonia no movimento estudantil foi ganha pelos estudantes da UEC mas as restantes fações continuaram ativas durante todo este período.

 

Um excelente trabalho, muito bem documentado que analisa o caso da expulsão e readmissão de um dirigente estudantil.

 

José Manuel Jara é um médico psiquiatra português.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A Biblioteca – Uma segunda casa por Manuel Carvalho Coutinho


 

A Biblioteca – Uma segunda casa por Manuel Carvalho Coutinho

 

Uma breve apresentação e apreciação de uma amostra substancial de Bibliotecas Municipais do Continente da Madeira e dos Açores, incluindo uma das mais antigas do país, a de Vila Real. O que deve ser uma Biblioteca? A resposta está explicita no título: uma segunda casa.

 

Como no caso das autoestradas, a abundância de financiamento público europeu levou à construção de um grande número de Bibliotecas, mesmo em regiões onde os leitores são escassos e o interesse pela cultura diminuto. Tendo-se começado pelo telhado, que fazer agora com estes equipamentos, quais estádios abandonados e de manutenção cara? Torna-los polos de cultura que procurem dinamizar o público local? Fechar-se sobre si mesmos? Fechar?

 

Interessante a questão dos horários. São impossíveis para quem trabalhe, reduzindo os frequentadores aos reformados e parcialmente aos estudantes. Há mais de uma década visitei a pequena cidade de Bath localizada no vale do Avon na Inglaterra e entrei na sua Biblioteca universitária. Está aberta 24 horas por dia, oferece centenas de milhares de livros, é aquecida (por cá as Bibliotecas são frias) e tem zona para refeições e convívio. Estava cheia.

 

Fiquei com vontade de visitar várias Bibliotecas.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

A Nossa Necessidade de Consolo é impossível de Satisfazer

                     A Nossa Necessidade de Consolo é impossível de Satisfazer de Stig Dagerman

 

Um pequeno ensaio sobre a natureza humana que nos fala da nossa necessidade de encontrar um significado para a nossa existência quer como espécie quer como indivíduos. Que razões podem sustentar e justificar as nossas escolhas, o que nos pode consolar?

 

Dagerman encontra uma resposta na liberdade, mas não na liberdade total que sabe impossível, uma vez que é limitada pela nossa natureza material, temporalmente finita e social, mas na luta contra os constrangimentos sociais a essa liberdade. Não percebe que a liberdade do ser humano se conquista e materializa exatamente na contribuição individual, sob todas e quaisquer formas, para a sociedade no sentido de tornar esta última mais justa e fraterna. É neste contributo que podemos encontrar consolo e neste contributo, por mais modesto que seja, que encontramos justificação da nossa existência individual.

 

Centrando-se no individuo isolado Dagerman entra num caminho inclinado que o levou à depressão, à angustia e no fim à conclusão de que a melhor expressão dessa liberdade completa é o suicídio. Acabou por matar-se.

 

Stig Dagerman (1923-1954), escritor e pensador sueco.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Desconhecido nesta morada


 

Desconhecido nesta morada por Kathrine Kressmann Taylor

 

Um conto narrado na forma epistolar com a correspondência trocada entre dois sócios de uma galeria de arte de São Francisco, um vivendo nos Estados Unidos e o outro na Alemanha, nos primeiros anos da década de 1930 do século XX. Os dois de origem alemã são para além de parceiros comerciais grandes amigos.

 

Os acontecimentos políticos, a emergência do nazismo e a subida ao poder de Adolfo Hitler, vão afastar os dois amigos e torna-los declarados inimigos, na medida em que um deles, o que vive na América, é judeu e o outro não.

 

Um livro intenso, em que a ambição e a maldade são exacerbadas pelo clima social, mas em que a retribuição chega pela via mais inesperada virando a violência contra o próprio agressor –e tudo com algumas simples cartas bem urdidas.

 

Esta obra tem sido recebida, e merecidamente, com a aclamação dos leitores. Um livro que merece ser lido (e relido periodicamente). Para percebermos como começa um genocídio, como o que está em curso em Gaza.

 

Kathrine Kressmann Taylor (1903-1996), escritora e professora americana, não pode publicar o texto na sua terra natal, os Estados Unidos, com o seu nome e foi obrigada a assinar como homem. Na Alemanha nazi o seu livro foi proibido.