domingo, 15 de novembro de 2009

Classe, Status e Poder


Colectânea de artigos de Hermínio Martins (HM), sociólogo português que fez carreira académica no Reino Unido, escritos e publicados nos últimos anos da década de 60 e nos princípios dos anos 70, antes, portanto, do 25 de Abril de 1974.

O último artigo, que dá o nome ao livro, é, de longe, o mais interessante. Nesse texto HM coloca uma questão relevante do ponto de vista da análise sociologia de raiz weberiana.

HM começa por constatar que Portugal era, na época, um país homogéneo em termos culturais, sem minorias, étnicas ou linguísticas significativas, e sem, portanto, dissonâncias no status dos grupos a estas relacionados. Recorda depois a teoria salienta que nesta situação as lutas de classe se devem agudizar. De facto a teoria indica que na ausência de outras clivagens que absorvam a conflitualidade social, esta concentra-se no campo da luta de classes. Acontece que HM não vislumbra sinal de lutas de classe no Portugal do final dos anos 60. Estaria a teoria errada, pergunta.

Encontra uma resposta interessante. Por um lado a ausência de lutas de classe resultaria da própria ausência de minorias significativas. Porquê? Porque, segundo HM, essas minorias seriam, obviamente as fornecedoras de lideres para as classes subordinadas. Sem estes líderes as classes subordinadas não seriam capazes de acção organizada. A segunda razão que aponta é a emigração. As classes subordinadas teriam desistido de mudar o país, encontrando uma solução mais adequada às suas aspirações na emigração. As duas razões juntas explicariam a passividade das classes subordinadas.

Tivesse HM esperado um par de anos e, provavelmente, teria escrito algo bem diferente. Um bom exemplo de como a precipitação pode gerar uma profunda análise, inteligentemente defendida e solidamente argumentada, mas errada, como os meses que se seguiram ao 25 de Abril o demonstraram.

A aposta secular das classes subordinadas na emigração, em detrimento de um envolvimento na mudança social do Pais, é, a meu ver, uma observação que mantém toda a sua validade. As causas e as consequências desta estratégia ainda não estão hoje esclarecidas. HM teve o mérito de ser um dos primeiros a chamar a atenção para este tema.


Sem comentários:

Enviar um comentário