quarta-feira, 4 de março de 2015

A filha do coveiro

A filha do Coveiro por Joyce Carol Oates

Um professor de matemática, amante da filosofia e das artes, de origem alemã refugia-se nos Estados Unidos fugindo do clima político que se instalara no seu país com a subida de Adolf Hitler ao poder. Da barbárie nazi conclui que toda a cultura alemã e ocidental em que confiava como base civilizacional se alicerça afinal em bonitas palavras ocas de sentido e, sobretudo, mentirosas. Todas as palavras são mentiras, diz. Perante esta evidência louca a única atitude possível é o silêncio.

A rejeição da cultura leva-o de regresso ao mais rude trabalho braçal, como contraponto do labor intelectual, tornando-se coveiro, e à mais básica rejeição da sociedade, imaginando que vive no estado do todos contra todos, ou seja todos contra ele.

Silêncio e a humildade são as formas de sobrevivências e de rejeitar a mentira que adopta. Dessa forma não ensina os filhos que acabam por crescer, apesar da escola, rudes e semi-analfabetos. Não deixa a mulher falar alemão, única língua em sabe exprimir-se. Bane os livros e mesmo a música. Receoso afasta-se da sociedade e vê em cada pessoa um inimigo prestes a cair-lhe em cima.

Isolado e enlouquecido acaba por cometer vários crimes e a por termo à sua própria vida, deixando orfã a sua filha Rabecca, que dele herda uma desconfiança total em relação ao mundo que a rodeia e um propósito firme de sobrevivência características que, contudo, no seu caso não vêm em paralelo com uma renuncia do contacto social nem com o peso da doença mental.

Rabecca vai sobreviver num mundo hostil e acabará por muito rapidamente cumprir, mesmo como mãe solteira,  o sonho Americano, através dum casamento com o filho de um milionário.

 Um bom livro. Joyce Carol Oates posiciona-se claramente como séria candidata ao Prémio Nobel da Literatura.

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