A filha do Coveiro por Joyce Carol Oates
Um professor
de matemática, amante da filosofia e das artes, de origem alemã refugia-se nos
Estados Unidos fugindo do clima político que se instalara no seu país com a
subida de Adolf Hitler ao poder. Da barbárie nazi conclui que toda a cultura alemã
e ocidental em que confiava como base civilizacional se alicerça afinal em bonitas
palavras ocas de sentido e, sobretudo, mentirosas. Todas as palavras são
mentiras, diz. Perante esta evidência louca a única atitude possível é o
silêncio.
A
rejeição da cultura leva-o de regresso ao mais rude trabalho braçal, como
contraponto do labor intelectual, tornando-se coveiro, e à mais básica rejeição
da sociedade, imaginando que vive no estado do todos contra todos, ou seja todos
contra ele.
Silêncio
e a humildade são as formas de sobrevivências e de rejeitar a mentira que adopta. Dessa
forma não ensina os filhos que acabam por crescer, apesar da escola, rudes e semi-analfabetos.
Não deixa a mulher falar alemão, única língua em sabe exprimir-se. Bane os
livros e mesmo a música. Receoso afasta-se da sociedade e vê em cada pessoa um
inimigo prestes a cair-lhe em cima.
Isolado
e enlouquecido acaba por cometer vários crimes e a por termo à sua própria
vida, deixando orfã a sua filha Rabecca, que dele herda uma desconfiança total
em relação ao mundo que a rodeia e um propósito firme de sobrevivência
características que, contudo, no seu caso não vêm em paralelo com uma renuncia
do contacto social nem com o peso da doença mental.
Rabecca
vai sobreviver num mundo hostil e acabará por muito rapidamente cumprir, mesmo como mãe solteira, o sonho
Americano, através dum casamento com o filho de um milionário.
Um
bom livro. Joyce Carol Oates posiciona-se claramente como séria candidata ao Prémio Nobel
da Literatura.
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