terça-feira, 4 de abril de 2017

O Relativismo

O Relativismo de Raymond Boudon

O relativismo, que na segunda metade do século XX ganhou assinalável peso no pensamento liberal ocidental, tem vindo a ser atacado por diversas correntes alternativas de pensamento nomeadamente o marxismo, mas também por outras correntes e escolas filosóficas. Raymond Boudon fazendo tábua rasa de toda essa rica discussão, que olimpicamente ignora, avança com uma tese diferente.

Um livro estranho em que o autor, um reputado sociólogo e pensador francês, ataca o mesmo princípio, o do relativismo, que defende. Para isso cria as figuras do bom relativismo e do mau relativismo, sendo o mau uma versão extremada do bom.

Afirma liminarmente “O bom relativismo chamou a atenção para o facto de as representações, as normas e os valores variarem segundo os meios sociais, as culturas e as épocas. O mau concluiu daí que as representações, as normas e os valores são desprovidos de fundamento: que são construções humanas inspiradas pelo meio, o espírito do tempo, as paixões, os interesses ou os instintos”.

Partindo desta perspetiva Boudon enreda-se num discurso muitas vezes incoerente, fazendo inúmeras referências às ciências cognitivas e a outras áreas de saber que aparentemente não domina, sem que consiga distinguir claramente as duas formas de relativismo que identifica e sem explicar porque é que um é bom e outro mau nas suas consequências sociais, morais ou intelectuais.

Reclama de forma confusa e superficial uma filiação da sua tese nos conceitos de Max Weber de racionalidade difusa, racionalidade instrumental e racionalidade axiológica, sendo que, contudo, lhes dá contornos que se não encontram em Weber.

Na essência o relativismo defende que as ideias e valores não se podem hierarquizar e apenas podem ser compreendidos no contexto social em que emergiram e em que são aceites. Naturalmente existem versões diferentes de relativismo, mas dificilmente se aceitará uma divisão entre bom e mau como uma distinção científica e rigorosa.

Em suma, um livro confuso, mal argumentado, ao pior estilo do intelectualismo francês. A muito reduzida bibliografia mostra pouco trabalho de investigação para um trabalho desta ambição filosófica.

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