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Lições para o Século XXI por Yuval Noah Harai
Sempre
que novos conhecimentos se transformam em tecnologias que podem implicar sérias
mudanças económicos e sociais é importante refletir sobre esses avanços, evitar
caminhos errados e aplicações indesejáveis. A inteligência artificial, a robótica
e a biotecnologia são grandes avanços da ciência que começam agora a gerar
impactos na economia e na sociedade. Mas não são os únicos.
Nestas
encruzilhadas históricas existem sempre os “velhos do Restelo” prontos a
imaginar cenários catastróficos apelando ao regresso à tradição e à contenção.
Esse é o papel que assume Harari neste livro.
Misturando
verdades científicas com ficção, meditação com reflexão, prudência com
paralisação, análise com preconceitos ideológicos, o autor não consegue
estruturar uma mensagem que não seja de medo perante a mudança.
É
certo que as tecnologias referidas podem ser usadas como instrumentos de poder,
como ferramentas de dominação, como formas de exploração, mas isso sempre
aconteceu com praticamente todos os avanços humanos.
Não
percebendo que o valor advém do trabalho imagina um mundo em que a maioria da
população é inútil e, portanto, supérflua, podendo ser deixada para trás ou
mesmo eliminada. Malthus no século XVIII tinha também esta visão devastadora do
progresso e do aumento populacional – os factos encarregaram-se de o desmentir
em toda a linha.
Nos últimos
70 anos a evolução científica e tecnologia tem sido avassaladora, as máquinas
permitiram grandes aumentos de produtividade, a população mundial
multiplicou-se mas a percentagem da população com trabalho, com pequenas
oscilações em torno de crises, tem-se mantido constante. O número de empregos
gerados tem sido proporcional ao aumento de população apesar do grande acréscimo
de pessoas.
A robótica,
a inteligência artificial e a biotecnologia podem mudar o perfil produtivo dos
países, vão aumentar enormemente a produtividade, vão alterar muitas das
relações sociais a que estamos acostumados, mas não podem alterar a lei do
valor, isto é que o valor de troca dos produtos advém do trabalho incorporado.
E não podem alterar o sistema capitalista que visa a apropriação da mais-valia
por uma pequena elite dona dos meios de produção. Estes factos devem
tranquilizar-nos face a cenários catastróficos de alcance mundial, mas
alertam-nos para o intensificar da exploração.
Que
estes avanços técnicos sejam usados para aumentar o controlo social é bem
evidente já hoje com a utilização de algoritmos e da inteligência artificial
para moldar os espíritos e inculcar a ideologia dominante. Estes efeitos têm de
ser percebidos, denunciados e combatidos.
Um
livro que partindo de problemas reais, pela ausência de uma metodologia
científica, acaba por se perder em reflexões pueris, antevendo cenários
calamitosos, embarcando em ideologias retrogradas, misturando o real com o
imaginário, o certo com o errado.
O
livro tem o mérito de levantar problemas sérios e atuais e de nos alertar para
alguns perigos das tecnologias emergentes.
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