quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

21 Lições para o Século XXI

21 Lições para o Século XXI por Yuval Noah Harai

Sempre que novos conhecimentos se transformam em tecnologias que podem implicar sérias mudanças económicos e sociais é importante refletir sobre esses avanços, evitar caminhos errados e aplicações indesejáveis. A inteligência artificial, a robótica e a biotecnologia são grandes avanços da ciência que começam agora a gerar impactos na economia e na sociedade. Mas não são os únicos.

Nestas encruzilhadas históricas existem sempre os “velhos do Restelo” prontos a imaginar cenários catastróficos apelando ao regresso à tradição e à contenção. Esse é o papel que assume Harari neste livro.

Misturando verdades científicas com ficção, meditação com reflexão, prudência com paralisação, análise com preconceitos ideológicos, o autor não consegue estruturar uma mensagem que não seja de medo perante a mudança.

É certo que as tecnologias referidas podem ser usadas como instrumentos de poder, como ferramentas de dominação, como formas de exploração, mas isso sempre aconteceu com praticamente todos os avanços humanos.

Não percebendo que o valor advém do trabalho imagina um mundo em que a maioria da população é inútil e, portanto, supérflua, podendo ser deixada para trás ou mesmo eliminada. Malthus no século XVIII tinha também esta visão devastadora do progresso e do aumento populacional – os factos encarregaram-se de o desmentir em toda a linha.

Nos últimos 70 anos a evolução científica e tecnologia tem sido avassaladora, as máquinas permitiram grandes aumentos de produtividade, a população mundial multiplicou-se mas a percentagem da população com trabalho, com pequenas oscilações em torno de crises, tem-se mantido constante. O número de empregos gerados tem sido proporcional ao aumento de população apesar do grande acréscimo de pessoas.

A robótica, a inteligência artificial e a biotecnologia podem mudar o perfil produtivo dos países, vão aumentar enormemente a produtividade, vão alterar muitas das relações sociais a que estamos acostumados, mas não podem alterar a lei do valor, isto é que o valor de troca dos produtos advém do trabalho incorporado. E não podem alterar o sistema capitalista que visa a apropriação da mais-valia por uma pequena elite dona dos meios de produção. Estes factos devem tranquilizar-nos face a cenários catastróficos de alcance mundial, mas alertam-nos para o intensificar da exploração.

Que estes avanços técnicos sejam usados para aumentar o controlo social é bem evidente já hoje com a utilização de algoritmos e da inteligência artificial para moldar os espíritos e inculcar a ideologia dominante. Estes efeitos têm de ser percebidos, denunciados e combatidos.

Um livro que partindo de problemas reais, pela ausência de uma metodologia científica, acaba por se perder em reflexões pueris, antevendo cenários calamitosos, embarcando em ideologias retrogradas, misturando o real com o imaginário, o certo com o errado.

O livro tem o mérito de levantar problemas sérios e atuais e de nos alertar para alguns perigos das tecnologias emergentes.

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