Economia Portuguesa Hoje: Mitos e
realidades por Elisa Ferreira
Uma Conferência proferida por Elisa Ferreira,
a portuguesa da Comissão Europeia chefiada pela alemã Ursula van der Leyen nos
idos anos 90 do século passado em Matosinhos.
Aborda três mitos da sociedade portuguesa,
que passados 30 anos, continuamos a observar no sistema social e político
português. O primeiro sobre as vantagens da União Europeia e dos fundos
recebidos: “em termos de PIB per capita e
de rendimento nacional disponível per capita … a posição relativa que Portugal
ocupava em 1960 – o 22º lugar – é a mesma que ocupa atualmente”. Ou seja os
fundos não nos aproximaram dos outros. Uma constatação que se tornou ainda mais
verdadeira quando nas décadas posteriores a este texto os fundos não nos
ajudaram a progredir como fizeram com que ficássemos cada vez mais para trás –
em 2019 a nossa posição era 26º (muito pior do que em 1960.
O segundo mito prendia-se com as ilusões que
grassavam então entre a elite académica e política de que Portugal se ia,
milagrosamente, modernizar deixando para trás as indústrias tradicionais (têxtil,
calçado, vestuário) e especializar-se nas indústrias de ponta – “Pensou-se mesmo – isto foi dito e divulgado –
que Portugal poderia passar diretamente de forma voluntarista, das indústrias
que sabia fazer para as que gostaria de saber fazer…”. Esta ideia absurda
continua a fazer caminho depois de se ter revelado absolutamente falsa. Oiça-se
o telejornal, leia-se os jornais especializados e não se ouvirá, nem lerá uma
linha sobre têxtil, calçado ou vestuário, as indústrias invisíveis, mas sim uma
profusão de histórias sobre novas tecnologias, e alta tecnologia, áreas em que
no máximo teremos algumas pequeníssimas empresas sem expressão nos mercados
mundiais.
Terceiro mito: Portugal uma economia de
mercado. Elisa Ferreira diz-nos o que já sabíamos “poucas empresas, instituições ou indivíduos conseguem sobreviver fora
da teia … dos fundos”. E estes são absolutamente controlados pelo Estado.
Quarto mito: não podemos regionalizar porque
somos muito pequeno. Olhemos à nossa volta e veremos a regionalização a
florescer por muitos países da nossa dimensão.
Quinto mito: a culpa é do Governo. Diz-nos
que não, que é também de empresários e outros decisores. Tem razão.
Uma conferência de 1995 que mantém plena
atualidade em 2020. Mostra como as nossas elites não aprendem com o erro.
Porquê: naturalmente porque em vez de penalizadas pelos erros são beneficiadas
por essas decisões erradas.
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