sábado, 28 de janeiro de 2012

A Selva

A Selva por Ferreira de Castro

O ser humano é a sua circunstância. Transplantem um jovem universitário português, monárquico convicto, catolicamente elitista, para o ambiente inóspito de uma selva cerrada, obriguem-no a trabalhar de sol a sol numa tarefa dura e solitária por pouco mais do que a comida, dêem-lhe como morada, junto de um igarapé, uma simples cabana desprovida de comodidades, exponham-no aos ataques dos parintintins e das feras e terão um seringueiro em estado puro, que pouco ou nada se distingue do trabalhador do Ceará trazido para a Amazónia pelos angariadores de mão-de-obra sem escrúpulos.

No barco, subindo o Rio Madeira, rumo ao coração da brenha, sentia-se estranho no convés dos trabalhadores e aspirava a subir para a primeira classe, depois, já na humilde cabana que seria a sua morada, à medida que aprendia o trabalho, que partilhava a vida e as dificuldades dos colegas, foi-se a sua consciência transformando e moldando, para finalmente a sua solidariedade, que como estudante universitário estaria com o dono da exploração de borracha, se transferir total e completamente para o lado dos seringueiros.

Um livro, injustamente esquecido, muito esclarecedor sobre a natureza humana.

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