quinta-feira, 7 de março de 2013

O Sol Nasce Sempre

O Sol Nasce Sempre por Ernest Hemingway

As festas de San Fermín em Pamplona prolongam-se por uma semana, no ambiente vivo, enérgico e fervilhante das multidões humanas reunidas para uma grande celebração. Um ambiente marcado pela excitação perigosa das largadas de touros, em que se arrisca a vida por um pouco de adrenalina, pela exaltação religiosa nas igrejas católicas apinhadas de gente, pela alegria e coragem induzidas pelo vinho, pelas touradas em que o confronto do homem com a besta, com a morte ganha uma dimensão espiritual cristalizada na afición tauromáquica.

A estrutura temporal, ordeiramente linear, triplica de O Sol Nasce Sempre conta-nos a história de um grupo de amigos antes, durante e depois das festas. Geograficamente a história reparte-se entre a Espanha e a França, a última vista como terra da sofisticação e da cultura, a primeira como espaço de autenticidade e proximidade com a Natureza.

Um estranho grupo de homens gravita em torno de uma aristocrata britânica ninfomaníaca. Temos o seu futuro marido, já cornudo consciente e sofredor procurando manter alguma dignidade impossível, temos Cohen o amante recentemente conquistado e repudiado mas que acalenta ainda a esperança de voltar a cair nas boas graças, temos o herói impotente mas dolorosamente apaixonado, temos Romero o jovem toureiro brilhante e audacioso mas conquistado, usado, surrado e abandonado e temos Bill o espetador atento e inteligente.

Neste emaranhado de relações doentias – que vira completamente do avesso o estereótipo que os homens procuram o sexo e as mulheres o amor – ninguém se salva, exceto Bill que nunca se envolvendo com a mulher fatal, nos dá afinal a grande lição de que é possível viver de forma mais sã sem abdicar dos prazeres da vida.

No seu estilo simples, despojado, coloquial mas não deixando de sondar as profundezas da alma humana Hemingway deixa-nos aqui um dos seus melhores trabalhos.

Sem comentários:

Enviar um comentário