domingo, 6 de março de 2016

O Delfim




O Delfim de José Cardoso Pires


O domínio secular de uma família sobre a Lagoa, as terras e as gentes da Gafanha chega ao fim de uma maneira simultaneamente dramática, para o Delfim, e surpreendente para todos.

Herdeiro estéril de uma linhagem de senhores semifeudais, o Infante, apesar da sua fortuna, da sua autoconfiança e das suas maneiras paternalistas, autoritárias, distantes e violentas de relacionamento com a população e os criados, não consegue evitar a sua queda que chega de onde menos se espera, do núcleo mais chegado.

Um personagem-chave é Domingos, o estóico e pacifico cabo-verdiano que sem um braço e sem escolaridade, domina a mecânica automóvel e outras artes, e se revela fundamental para a queda do Infante.

Pode ser interpretado como uma inteligente metáfora aos últimos anos do fascismo em Portugal, na vigência de Marcelo Caetano, ele próprio um delfim envelhecido de Salazar, e na previsão da queda do regime com base no problema colonial.

Narrado de uma forma distante e desapegada, o livro contém interessantes reflexões sobre a realidade, como pode ser vista e pressentida de vários ângulos e perspectivas, sobre a relação do caçador e da caça, sobre a educação tal como era vista na época pelos poderes dominantes e que ainda prevalece nas relações laborais em muitas empresas “os mandamentos de fazer o homem, os quais foram ditados pela experiência dos antigos e são três, a saber: recompensa com prudência, governo com vigilância e castigo com firmeza. Vinho por medida, rédea curta e porrada na garupa”.

Do livro saiu um filme, em 2002, de Fernando Lopes com Rogério Samora e Alexandra Lencastre.

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