sábado, 27 de fevereiro de 2016

Lila

Lila de Marilynne Robinson



Um livro que fala “da existência, das grandes tempestades que a assolam”. Uma extraordinária reflexão sobre a vida, a pobreza, a solidão, o crime, o amor, a intimidade e a religião feita com uma profundidade e uma delicada subtileza que nos toca profundamente quer pelo lado racional quer pelo lado emotivo e afectivo.

Calvino, o pregador protestante francês do século XVI, é o inspirador de Marilynne Robinson, ela própria crente da Igreja Congregacionista de orientação calvinista, que o refere várias vezes no romance.

O romance tem uma faceta de fluxo da consciência decorrendo das impressões, sentimentos e pensamentos de Lila sobre o seu passado, o seu presente, os planos e alternativas de futuro, as pessoas que conhece e os fragmentos da Bíblia que lê.

O texto tem um sabor amargo e triste, desenrola-se num ambiente melancólico e tende para reflexões amarguradas “Se o Senhor não existir, então as coisas são só como as vemos. E isso é muito difícil de aceitar. Quer dizer não está certo”. Aqui chegamos a outro ponto crucial do livro, a ausência de acção, fixando-se na simples aceitação do que vai sucedendo sem que a revolta aflore a não ser em momentos negativos de raiva, vingança e morte, nunca canalizada para acções positivas de mudança.

Aqui está o ponto em que uma postura mais positiva, mais actuante poderia fazer a diferença. Se o mundo que vemos não está certo, e a abundância de sofrimento, injustiça e miséria assim o atestam, então temos que fazer alguma coisa, temos de actuar, de agir em uníssono com todos os que o queiram alterar, não basta esperar que Deus exista.

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