Lila de Marilynne Robinson
Um livro que fala “da existência, das grandes tempestades que a assolam”. Uma
extraordinária reflexão sobre a vida, a pobreza, a solidão, o crime, o amor, a
intimidade e a religião feita com uma profundidade e uma delicada subtileza que
nos toca profundamente quer pelo lado racional quer pelo lado emotivo e
afectivo.
Calvino, o pregador protestante francês do
século XVI, é o inspirador de Marilynne Robinson, ela própria crente da Igreja
Congregacionista de orientação calvinista, que o refere várias vezes no romance.
O romance tem uma faceta de fluxo da consciência
decorrendo das impressões, sentimentos e pensamentos de Lila sobre o seu
passado, o seu presente, os planos e alternativas de futuro, as pessoas que
conhece e os fragmentos da Bíblia que lê.
O texto tem um sabor amargo e triste, desenrola-se
num ambiente melancólico e tende para reflexões amarguradas “Se o Senhor não existir, então as coisas são
só como as vemos. E isso é muito difícil de aceitar. Quer dizer não está certo”.
Aqui chegamos a outro ponto crucial do livro, a ausência de acção, fixando-se na
simples aceitação do que vai sucedendo sem que a revolta aflore a não ser em
momentos negativos de raiva, vingança e morte, nunca canalizada para acções
positivas de mudança.
Aqui está o ponto em que uma postura mais
positiva, mais actuante poderia fazer a diferença. Se o mundo que vemos não está
certo, e a abundância de sofrimento, injustiça e miséria assim o atestam, então
temos que fazer alguma coisa, temos de actuar, de agir em uníssono com todos os
que o queiram alterar, não basta esperar que Deus exista.
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