quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Portugal e o Espaço

Portugal e o Espaço por Manuel Paiva

Manuel Paiva é um dos mais destacados cientistas na investigação biomédica no espaço. Fez toda a sua carreira na Bélgica tendo sido Professor na Faculdade de Medicina da Universidade Livre de Bruxelas. Participou em dez missões espaciais concebendo e desenhando experiências que foram realizadas no espaço. Um talento impressionante totalmente desaproveitado no nosso país.

Neste seu livro analisa o complexo industrial-científico espacial português e a sua inserção no espaço europeu. O retrato que apresenta é um sector desequilibrado, artificial e dependente do exterior.

Desequilibrado na medida em que a componente científica está muito mais desenvolvida do que o setor industrial. Manuel Paiva destaca a qualidade de alguns centros e laboratórios como o Centro de Astronomia da Universidade do Porto em que “a produção científica é excelente, não só pelo número de publicações (527 artigos em revistas internacionais até abril de 2011) mas principalmente pelo seu impacto, com um total de 13.218 citações”, o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa ou ainda Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico. Nestes centros cientistas como Nuno Cardoso dos Santos, Francisco Lobo e outros estudam temas diversos como os exoplanetas “os planetas em órbita de outras estrelas que não o Sol” ou cosmologia quântica “o estudo da estrutura e da evolução do Universo”.

Do lado das empresas o panorama é desolador. Uma escassa dúzia de empresas e é tudo. E o setor só arrancou graças à política britânica do “quero o meu dinheiro de volta”. De acordo com este princípio as contribuições dos estados para o orçamento ESA (European Space Agency – Agência Espacial Europeia) devem depois ser aplicados proporcionalmente nos mesmos países quando se trata de compra de materiais para os grandes projetos espaciais (que são projetos de centenas de milhões de euros – “o custo da aventura marciana n ser de várias centenas de milhares de milhões”). Assim com a adesão de Portugal à ESA no ano 2000 o país passou a poder contar com encomendas para a sua indústria. Como ela é muito incipiente algumas empresas estrangeiras vieram instalar-se em Portugal para beneficiar da quota de encomendas portuguesa.

Vemos então que é um setor algo artificial que existe graças a encomendas decididas por critérios políticos e não por mérito da iniciativa privada e que mesmo assim a famosa iniciativa privada portuguesa não consegue responder e são os estrangeiros que ficam com a nossa quota.

Interessante ver como o pragmatismo e a colaboração vão lado a lado com a competição na exploração do espaço, nomeadamente entre os grandes rivais os Estados Unidos e a Rússia “Em 28 de junho de 2015, o lançador Falcon da empresa Space X, cuja capsula Dragon ia abastecer a ISS (estação espacial internacional), explodiu pouco depois da deslocagem. Uma das consequências deste desaire foi a assinatura de um novo acordo entre norte-americanos e os russos para que os velhos lançadores Soyuz continuassem a ser utilizados para o transporte de astronautas até, pelo menos 2019. Durante os próximos anos os russos continuaram a ser os únicos que levarão astronautas até a ISS. “.


Um pequeno livro com muita e interessante informação, escrito de forma muito direta e acessível. Dos melhores desta coleção.



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