Portugal
e o Espaço por Manuel Paiva
Manuel Paiva é um dos mais destacados
cientistas na investigação biomédica no espaço. Fez toda a sua
carreira na Bélgica tendo sido Professor na Faculdade de Medicina da
Universidade Livre de Bruxelas. Participou em dez missões espaciais concebendo e desenhando
experiências que foram realizadas no espaço. Um talento
impressionante totalmente desaproveitado no nosso país.
Neste seu livro analisa o complexo
industrial-científico espacial português e a sua inserção no espaço europeu. O
retrato que apresenta é um sector desequilibrado, artificial e dependente do
exterior.
Desequilibrado na medida em que a
componente científica está muito mais desenvolvida do que o setor industrial.
Manuel Paiva destaca a qualidade de alguns centros e laboratórios como o Centro
de Astronomia da Universidade do Porto em que “a produção científica é excelente, não só pelo número de publicações
(527 artigos em revistas internacionais até abril de 2011) mas principalmente
pelo seu impacto, com um total de 13.218 citações”, o Centro de Astronomia
e Astrofísica da Universidade de Lisboa ou ainda Instituto de Plasmas e Fusão
Nuclear do Instituto Superior Técnico. Nestes centros cientistas como Nuno
Cardoso dos Santos, Francisco Lobo e outros estudam temas diversos como os
exoplanetas “os planetas em órbita de
outras estrelas que não o Sol” ou cosmologia quântica “o estudo da estrutura e da evolução do Universo”.
Do lado das empresas o panorama é
desolador. Uma escassa dúzia de empresas e é tudo. E o setor só arrancou graças
à política britânica do “quero o meu dinheiro de volta”. De acordo com este
princípio as contribuições dos estados para o orçamento ESA (European Space
Agency – Agência Espacial Europeia) devem depois ser aplicados
proporcionalmente nos mesmos países quando se trata de compra de materiais para
os grandes projetos espaciais (que são projetos de centenas de milhões de euros – “o
custo da aventura marciana n ser de várias centenas de milhares de milhões”).
Assim com a adesão de Portugal à ESA no ano 2000 o país passou a poder contar
com encomendas para a sua indústria. Como ela é muito incipiente algumas
empresas estrangeiras vieram instalar-se em Portugal para beneficiar da quota
de encomendas portuguesa.
Vemos então que é um setor algo artificial
que existe graças a encomendas decididas por critérios políticos e não por
mérito da iniciativa privada e que mesmo assim a famosa iniciativa privada
portuguesa não consegue responder e são os estrangeiros que ficam com a nossa
quota.
Interessante ver como o pragmatismo e a
colaboração vão lado a lado com a competição na exploração do espaço,
nomeadamente entre os grandes rivais os Estados Unidos e a Rússia “Em 28 de junho de 2015, o lançador Falcon da
empresa Space X, cuja capsula Dragon ia abastecer a ISS (estação espacial
internacional), explodiu pouco depois da deslocagem. Uma das consequências
deste desaire foi a assinatura de um novo acordo entre norte-americanos e os
russos para que os velhos lançadores Soyuz continuassem a ser utilizados para o
transporte de astronautas até, pelo menos 2019. Durante os próximos anos os
russos continuaram a ser os únicos que levarão astronautas até a ISS. “.
Um pequeno livro com muita e interessante
informação, escrito de forma muito direta e acessível. Dos melhores desta
coleção.
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