A Zona de Interesse de Martin Amis
Um
romance histórico sobre a Alemanha, a solução final e os campos de
concentração, trabalho escravo e extermínio, eventos que, por via da natural
sucessão das gerações, estão a desaparecer da memória vivida da Humanidade mas
que é importante manter presentes e consequentes, até porque as ideias de extrema-direita
ressurgem um pouco por toda a Europa e os emigrantes (incluindo os
portugueses), as minorias religiosas e étnicas são vilipendiadas e cresce
contra elas o ódio racial assente como defendiam os alemães do III Reich numa alegada,
mas inexistente, superioridade civilizacional dos povos na Europa central.
Profuso
nos detalhes, preciso nas datas e nos intervenientes, objectivo nas descrições,
este é um trabalho fruto de pesquisa intensa e leituras múltiplas, que nos
revela uma máquina infernal de concentração, confinamento, deportação e matança
de judeus, ciganos, deficientes, toda uma multidão de seres humanos inocentes. As
selecções, as câmaras de gás, a profanação dos cadáveres, a sua incineração e
posterior moagem, toda uma cadeia de Morte e Horror são apresentadas sem
sofismas de forma eficaz, crua e simples mas dura.
Narrado
do ponto de vista de um judeu, e de dois alemães, do comandante do Campo, Paul
Doll e de um sobrinho do Reichleiter (líder nacional) Martin Bormann o romance
consegue envolver-nos na sua trama sentimental, de espionagem e resistência.
Um
livro oportuno, é preciso lembrar para não repetir os erros do passado agora
que a Alemanha ressurgiu no seu imenso poder e em que os alvos já não são os
judeus, exterminados na sua maioria e expulsos os sobreviventes, mas os gregos
e os outros povos do Sul para os quais se erguem, não campos de concentração,
mas restrições financeiras tais que ameaçam a sua sobrevivência.
Interessante
e pouco conhecido o papel do conglomerado industrial IG Farben, na utilização
dos judeus no seu complexo industrial químico de Buna-Werke, integrada no campo
de Auschwitz. A IG Farben estreitamente ligada ao regime alemão foi depois da
guerra dividida em várias empresas entre elas as bem-conhecidas AGFA, BASF,
Bayer e Sanofi.
Um
bom romance apesar de não escapar em algumas páginas a uma visão ideológica e
panfletária, do tempo da Guerra Fria, com a recorrente, mas falaciosa,
comparação entre a URSS e a Alemanha criminosa. É já tempo de nas obras sérias
como esta se dissipar esta propaganda e de se apresentar os factos históricos
tal como aconteceram. Aliás o campo de concentração de Auschwitz foi libertado
pelo Exercito Vermelho que aí salvou muitos de uma morte certa.
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