segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

A Zona de Interesse

A Zona de Interesse de Martin Amis

Um romance histórico sobre a Alemanha, a solução final e os campos de concentração, trabalho escravo e extermínio, eventos que, por via da natural sucessão das gerações, estão a desaparecer da memória vivida da Humanidade mas que é importante manter presentes e consequentes, até porque as ideias de extrema-direita ressurgem um pouco por toda a Europa e os emigrantes (incluindo os portugueses), as minorias religiosas e étnicas são vilipendiadas e cresce contra elas o ódio racial assente como defendiam os alemães do III Reich numa alegada, mas inexistente, superioridade civilizacional dos povos na Europa central.

Profuso nos detalhes, preciso nas datas e nos intervenientes, objectivo nas descrições, este é um trabalho fruto de pesquisa intensa e leituras múltiplas, que nos revela uma máquina infernal de concentração, confinamento, deportação e matança de judeus, ciganos, deficientes, toda uma multidão de seres humanos inocentes. As selecções, as câmaras de gás, a profanação dos cadáveres, a sua incineração e posterior moagem, toda uma cadeia de Morte e Horror são apresentadas sem sofismas de forma eficaz, crua e simples mas dura.

Narrado do ponto de vista de um judeu, e de dois alemães, do comandante do Campo, Paul Doll e de um sobrinho do Reichleiter (líder nacional) Martin Bormann o romance consegue envolver-nos na sua trama sentimental, de espionagem e resistência.

Um livro oportuno, é preciso lembrar para não repetir os erros do passado agora que a Alemanha ressurgiu no seu imenso poder e em que os alvos já não são os judeus, exterminados na sua maioria e expulsos os sobreviventes, mas os gregos e os outros povos do Sul para os quais se erguem, não campos de concentração, mas restrições financeiras tais que ameaçam a sua sobrevivência.

Interessante e pouco conhecido o papel do conglomerado industrial IG Farben, na utilização dos judeus no seu complexo industrial químico de Buna-Werke, integrada no campo de Auschwitz. A IG Farben estreitamente ligada ao regime alemão foi depois da guerra dividida em várias empresas entre elas as bem-conhecidas AGFA, BASF, Bayer e Sanofi.

Um bom romance apesar de não escapar em algumas páginas a uma visão ideológica e panfletária, do tempo da Guerra Fria, com a recorrente, mas falaciosa, comparação entre a URSS e a Alemanha criminosa. É já tempo de nas obras sérias como esta se dissipar esta propaganda e de se apresentar os factos históricos tal como aconteceram. Aliás o campo de concentração de Auschwitz foi libertado pelo Exercito Vermelho que aí salvou muitos de uma morte certa.

Sem comentários:

Enviar um comentário