quinta-feira, 14 de abril de 2016

Conversa na Catedral




Conversa na Catedral de Mario Vargas Llosa

A obra máxima de Mario Vargas Llosa, um romance histórico que nos conta os anos da ditadura do General Manuel Arturo Odría Amoretti que governou o Perú com mão de ferro entre 1848 e 1956.

O General Odría tinha como seu próximo conselheiro e homem de mão o odiado Alejandro Esparza Zañartu, chefe da polícia política e mais tarde ministro do interior no qual Losa se inspira para compor a personagem de Cayo Bermudez.

Llosa expõe com mestria uma elite político-militar peruana corrupta, intriguista, dissoluta nos costumes, sem horizontes culturais e sem propostas para o país que não as do seus mesquinhos interesses económicos individuais. Um poder ancorado na aliança entre a burguesia urbana de base industrial (D. Fermin) e os agrários latifundiários (Senador Arevalo), que instrumentaliza as Forças Armadas para se manter no comando do país.

Usando uma técnica espantosa, Llosa enreda-nos numa longa conversa em que os narradores se alternam e em que as conversas cruzadas nos remetem simultaneamente para distintos acontecimentos ocorridos em momentos diferentes do tempo. O passado, o presente e o futuro misturam-se confluindo a espaços e aí se sintetizando o sentido completo de cada episódio e das etapas da sua evolução.

O cepticismo, a desconfiança da natureza humana, (“não há puros”), a nostalgia de um tempo de camaradagem, de desafio e de utopia não aproveitado plenamente, marca profundamente a atitude de Santiago de algum modo a voz mais forte e independente do livro.

Um livro espantoso. Vargas Llosa deve o prémio Nobel que recebeu em 2010 em boa parte a este livro notável.

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