quarta-feira, 18 de julho de 2018

História de quem vai e de quem fica

História de quem vai e de quem fica de Elena Ferrante

Neste terceiro livro da tetralogia iniciada com a Amiga Genial Elena Ferrante continua a contar-nos a história das duas amigas napolitanas numa Itália em transformação.

Como pano de fundo político, em plenos anos 70 do século XX, vemos o esquerdismo irromper nas universidades, o PCI começar uma suicida aproximação à Democracia Cristã, o terrorismo fascista a matar impiedosamente e alguns grupos de esquerda a responder na mesma moeda.

No plano social encaramos uma Itália a duas velocidades, o país das fábricas de enchidos sem condições de higiene e em que os direitos laborais são sistematicamente desrespeitados ao lado da Itália dos centros mecanográficos que albergavam os primeiros e mais modernos computadores. Duas velocidades que são as duas faces da mesma moeda: a do sistema capitalista com a exploração e a desigualdade, com a acumulação de riqueza num pólo e a pobreza e miséria de muitos no outro.

Nos costumes o divórcio, a união de facto, a pílula e a liberdade sexual afirmam-se como realidades. O feminismo levanta-se e as mulheres começam a organizar-se mas, em contraponto, a máfia continua a reinar e a prosperar em boa parte do país. As viagens de avião, até aí exclusivo das elites, começam a chegar lentamente a um público da classe média.

A história cobre regiões muito diferentes, temos Milão das editoras e do pensamento mais arrojado, vemos Florença e a sua Universidade e, naturalmente, o centro dos acontecimentos contínua em Nápoles.

Os destinos das duas amigas aparta-se e abeira-se como as marés aproximam e afastam as águas da costa. Mas a sua relação é mais forte que a distância e que o tempo.

Uma trama, de tons autobiográficos, que através das vidas de Lina e Lenu e das respetivas famílias e amizades nos relata de forma cativante e fluída a evolução da Itália dos anos 60 aos nossos dias.

Elena Ferrante é um pseudónimo literário que esconde a verdadeira e desconhecida identidade da autora. Várias tentativas de expor o seu verdadeiro nome falharam redondamente. O mistério continua alimentando uma discussão inútil, embora provavelmente comercialmente lucrativa, que nada acrescenta sobre a valia da obra e até, infelizmente, a apouca.

1 comentário:

  1. Nunca li esta autora. Ao ler este resumo percebi o "estar" de umas amigas italianas. Agora ando a ler Machado de Assis. Gosto

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