quarta-feira, 4 de julho de 2018

Para a Questão Judaica


Para a Questão Judaica Karl Marx

Um conjunto de ensaios de Karl Marx que partindo da análise e da crítica de textos de Bruno Bauer sobre a questão judaica na Prússia alarga a análise à questão da emancipação do ser humano nas amarras de religião e oferece uma visão materialista que demonstra que o mundo das ideias depende das condições concretas de vida e da organização social e não o contrário.

Dois pequenos textos mas muito densos e de grande profundidade filosófica. Marx analisa de forma crítica as teses de Bruno Bauer sobre a integração dos judeus na Prússia, Estado que oficialmente se definia como cristão.

Bauer defendia que em termos de religião o cristianismo era mais avançado que o judaísmo e que por conseguinte um passo importante para a emancipação dos judeus passaria pela prévia conversão ao cristianismo e só depois dessa posição conseguiriam fazer uma crítica consequente da religião e lutar por um estado laico.

Marx responde que o Estado laico não exige nada disso e que é possível continuar judeu dentro de tal Estado, como se comprovava pelos Estados Unidos, uma vez que a emancipação política, isto é a obtenção de direitos políticos para todos independentemente da sua religião, não exige a libertação do ser humano na ilusão religiosa. “A emancipação do Estado relativamente à religião, não é a emancipação do homem real relativamente à religião”.  

O Estado pode ser laico, isto é não subordinado a uma religião específica, mas os homens concretos podem continuar a professar uma qualquer fé. No Estado laico “O homem não foi, portanto, libertado da religião, recebeu a liberdade de religião”.
Por outro lado Marx mostra que o judaísmo mais do que uma religião era na Prússia uma prática concreta, assente numa especialização profissional em torno do comércio assente no lucro, isto é uma prática de índole financeira e comercial capitalista. Nesse sentido seriam os cristãos ao abandonar o feudalismo que se estavam a converter às práticas judaicas. Nessa medida as diferenças entre cristãos e judeus esbatem-se “Os judeus emancipam-se na medida em que os cristãos se tornam judeus”.

O lucro que os judeus procuravam incessantemente nas suas atividades e que de alguma forma se constituía no seu Deus “mundanizou-se, tornou-se deus mundial”.

Por último Marx defende que o homem só se libertará completamente quando a sociedade se organizar de forma diferente, uma nova forma em que os seres humanos não mais obedeçam cegamente ao Deus do lucro, mas sigam outros valores mais humanos.

Se o texto de Marx é denso e difícil, podendo em algumas passagens ser mal compreendido e mal interpretado, o que dizer do desadequado prefácio de José Barata Moura que ao invés de ajudar a situar e a perceber a Questão Judaica lhe acrescenta uma complexidade adicional totalmente desnecessária e uma profusão de notas, muitas em alemão, que não facilitam a apreensão desta importante obra do grande filosofo alemão.
 


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