terça-feira, 7 de agosto de 2018

História da Menina Perdida


História da Menina Perdida de Elena Ferrante

Quarto e último volume da obra iniciada com a Amiga Genial que nos conta a longa amizade entre duas crianças nascidas num bairro popular de Nápoles, ambas dotadas de grande inteligência. Uma estuda e torna-se escritora, outra não pode estudar e envereda por outros caminhos.

O tempo corre veloz e para trás ficou a infância, nascem os filhos, os primeiros casamentos desfeitos, a vida muda ao sabor da História de Itália que primeiro reprime violentamente o movimento revolucionário e depois assiste à auto-dissolução da esquerda tragada pela corrupção e pela ambição- “Anárquico, marxista, gramsciano, comunista, leninista, trotskista, maoista, operaísta estavam rapidamente a tonar-se rótulos retrógrados ou, pior, um estigma de brutalidade. A exploração do homem pelo homem e a lógica do lucro máximo, que antes eram considerados uma abominação, tinham voltado a ser, por toda a parte, as bases da liberdade e da democracia”. Um processo semelhante aconteceu por todo o ocidente incluindo Portugal. O centro dessa mudança foram os meios de comunicação social doravante privatizados mas fortemente controlados pelos Estados.

Os trinta cinzentos, os anos 80, 90 e 00 do novo século escoam-se, mas a vida das duas amigas vai ficar indelevelmente marcada por um acontecimento traumático. Este ultimo livro cobre um período temporal mais largo, levando-nos pela vida adulta e o início da velhice das duas mulheres.

O grupo da escola primária, muito dividido pela vida, começa a desaparecer vitimados pela violência, a doença e a droga. É tempo de questionar a vida que se tem e teve. A resposta pode ser dolorosa mas como pergunta Lila “onde está escrito que as vidas devem ter um sentido?”.

Uma escrita mais rebuscada, mais refletida, mais introspetiva e psicológica do que os tomos anteriores, faz-nos olhar mais para os sentimentos do que para os simples acontecimentos que são, agora, remetidos para um segundo plano fosco e vistos com grande distanciamento, embora com rigor histórico.

Nápoles reganha todo o palco e pode agora ser mais minuciosamente analisada. Revela-se uma cidade cebola com as suas múltiplas camadas sobrepostas ao nível geográfico, social e humano. Uma cidade violenta, dura, crua, capaz de permitir a tragédia do desaparecimento de uma criança de quatro anos.

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