quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Racism

Racism de Ali Rattansi

Concebido com uma muito curta introdução ao fenómeno do Racismo, este ensaio escrito numa linguagem simples e acessível leva-nos para uma reflexão multifacetada, intelectualmente séria e muito polémica.

Algumas ideias deste Professor de Sociologia da Universidade de Londres são mesmo muito controversas, nomeadamente a da recusa do conceito de racismo institucional, inicialmente avançado por Stokely Carmichael (Kwame Ture), líder histórico dos Black Panthers e depois reformulada no Relatório sobre a morte do jovem inglês Negro Stephen Lawrence às mãos da Policia britânica em 1993. Nesse relatório concluía-se que a Polícia britânica era institucionalmente racista. No entanto o conceito serviu por um lado para introduzir um conjunto de reformas na estrutura, nos procedimentos e na formação dos agentes por forma a eliminar o racismo da instituição, mas por outro para desculpar os crimes individuais dos agentes com base na ideia que a culpa era do racismo institucional na corporação.

Outra ideia debatível é a de que o racismo não é uma questão de sim ou não, mas antes um continuo. Isto é, que na maioria das vezes não se pode dizer que uma atitude, uma pessoa, uma política, uma instituição é ou não racista, mas apenas se é racista em maior ou menor grau. Rattansi não nega a existência de extremos, mas coloca-os como exceções. Este gradualismo pode ser, aqui sim, uma via perigosa para uma desculpabilização. Veja-se o exemplo português sempre a desculpar-se que os outros, ingleses e franceses, foram ou são piores no seu racismo.

No geral o livro analisa sem dogmatismos e com rigor o racismo e a sua interação com outros fenómenos como o género, a classe social, a cultura, o nacionalismo.

A ideia de vários, contraposta à de um único, racismos é também debatida, bem como as políticas do chamado novo racismo que se esconde da negação e de uma atitude falsamente isenta de pretensa invisibilidade da cor (colour-blind).  

Um livro que nos faz pensar e que por essa via nos abre novas perspetivas, temas e abordagens de um fenómeno que está a ressurgir com força no centro da política portuguesa e europeia. Pena não estar ainda traduzido em português.

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