A Imagem do Cabo-verdiano nos textos
portugueses de Danilo Santos
A partir de um conjunto de autores
portugueses, do final do século XVIII à primeira metade do século XIX, que
visitaram ou permaneceram em Cabo Verde por alguns anos é possível identificar
a imagem que estes forasteiros construíram da sociedade cabo-verdiana. Uma
imagem deturpada, eurocêntrica, racista que não levava em conta as
particularidades de um povo e de uma cultura que se forjou na interceção de múltiplos
contributos europeus (portugueses e outros) e africanos.
Uma imagem que considera o contributo
africano inferior, que apenas admite como padrão a cultura portuguesa da época.
Assim tantos os aspetos próprios criados localmente, como a língua, a
culinária, as cerimónias fúnebres, são denegridas e atacadas, defendendo os
portugueses que deveriam ser erradicadas e substituídas por padrões
portugueses. Nunca o conseguiram fazer.
Estas imagens negativas perduraram no tempo e
ainda, que apenas parcialmente, persistem ainda hoje em dia. Daí também a
importância de estudos como este.
Por outro lado estes textos constituem autênticos
libelos acusatórios contra o colonialismo português pela sua incapacidade de desenvolver
e administrar os territórios conquistados. A pobreza graça e a concentração das
terras deixa muitos sem trabalho e sem ocupação.
Um dos maiores fracassos da colonização
portuguesa deu-se no capítulo da instrução. País de analfabetos, Portugal, não
conseguiu nunca transmitir a instrução mínima aos povos colonizados, antes
tiveram de ser estes a procurar cultivar as artes e as ciências por si
próprios.
Curioso é que todos os autores portugueses do
século XVIII e XIX citados defenderam a tese, mais tarde negada pelas
autoridades coloniais, de que quando os portugueses chegaram a Cabo Verde a
ilha de Santiago era já habitada pelo povo Wolof ou Jalofos. Assim estes
autores não falam do descobrimento de Cabo Verde mas sim de conquista. Esta
unanimidade é deveras significativa.
Danilo Santos publica aqui uma excelente versão
da sua dissertação de Mestrado em História de África. A publicação pela editora
cabo-verdiana Pedro Cardoso Livraria é cuidada e um bom sinal que as obras
académicas encontram no arquipélago um público interessado e atento.
Uma obra importante na desconstrução das
imagens construídas por portugueses de fora sobre os povos e as culturas dos
povos africanos dominados e explorados.
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