quarta-feira, 10 de abril de 2019

A Imagem do Cabo-verdiano nos Textos Portugueses


A Imagem do Cabo-verdiano nos textos portugueses de Danilo Santos

A partir de um conjunto de autores portugueses, do final do século XVIII à primeira metade do século XIX, que visitaram ou permaneceram em Cabo Verde por alguns anos é possível identificar a imagem que estes forasteiros construíram da sociedade cabo-verdiana. Uma imagem deturpada, eurocêntrica, racista que não levava em conta as particularidades de um povo e de uma cultura que se forjou na interceção de múltiplos contributos europeus (portugueses e outros) e africanos.

Uma imagem que considera o contributo africano inferior, que apenas admite como padrão a cultura portuguesa da época. Assim tantos os aspetos próprios criados localmente, como a língua, a culinária, as cerimónias fúnebres, são denegridas e atacadas, defendendo os portugueses que deveriam ser erradicadas e substituídas por padrões portugueses. Nunca o conseguiram fazer.

Estas imagens negativas perduraram no tempo e ainda, que apenas parcialmente, persistem ainda hoje em dia. Daí também a importância de estudos como este.

Por outro lado estes textos constituem autênticos libelos acusatórios contra o colonialismo português pela sua incapacidade de desenvolver e administrar os territórios conquistados. A pobreza graça e a concentração das terras deixa muitos sem trabalho e sem ocupação.

Um dos maiores fracassos da colonização portuguesa deu-se no capítulo da instrução. País de analfabetos, Portugal, não conseguiu nunca transmitir a instrução mínima aos povos colonizados, antes tiveram de ser estes a procurar cultivar as artes e as ciências por si próprios.

Curioso é que todos os autores portugueses do século XVIII e XIX citados defenderam a tese, mais tarde negada pelas autoridades coloniais, de que quando os portugueses chegaram a Cabo Verde a ilha de Santiago era já habitada pelo povo Wolof ou Jalofos. Assim estes autores não falam do descobrimento de Cabo Verde mas sim de conquista. Esta unanimidade é deveras significativa.

Danilo Santos publica aqui uma excelente versão da sua dissertação de Mestrado em História de África. A publicação pela editora cabo-verdiana Pedro Cardoso Livraria é cuidada e um bom sinal que as obras académicas encontram no arquipélago um público interessado e atento.

Uma obra importante na desconstrução das imagens construídas por portugueses de fora sobre os povos e as culturas dos povos africanos dominados e explorados.

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