quarta-feira, 17 de abril de 2019

Vinte e quatro horas da vida de uma mulher

Vinte e quatro horas da vida de uma mulher por Stefan Zweig

A fuga de uma mãe de família com um jovem que conhecera no dia anterior, abandonando o marido e os filhos, desperta tensões, memórias e uma confissão inesperada.

Quanto tempo é necessário para que uma pessoa tome decisões que mudem completamente o rumo da sua vida? Serão vinte e quatro horas suficientes? Pode um ser tão memorável e inesquecível que as suas consequências e memórias dominem o resto da existência?

Mais do que os olhos ou o semblante facial podem as mãos desvendar o carácter, os sentimentos, as ideias e as intenções de uma pessoa. Perscrutando as mãos que se movem no pano da roleta do Casino de Monte Carlo uma mulher de meia-idade depara-se fascinada com uma personalidade inesperada, dramática, bipolar e em rápida queda para o abismo.

O jogo pode ser encarado de muitas maneiras, para uns uma diversão, um simples divertimento, para outros um mero passatempo ou mesmo uma oportunidade de convívio social entre uma elite despreocupada.

Outros porém são atraídos hipnoticamente pela incerteza do resultado, pela expectativa do desfecho, pela adrenalina dos instantes em que a bola rola antes de se fixar num número, tornando-se obcecados quando não viciados. Não conseguem parar. Só o completo despojamento os afasta da mesa onde a sorte decide a fortuna das apostas. Para estes o futuro é sombrio, pobre e, muitas vezes, curto. Perdido o património, sufocado em dívidas, desfalcados parentes e amigos, o jogador compulsivo encara a derrota final com desânimo, pessimismo, angustia e intenções mórbidas quando não suicidas.

Pode alguém afastar um jogador viciado de uma mesa de roleta? Pode uma mulher salvar um derrotado e devolvê-lo à vida? E o que é envelhecer “senão perder o medo do passado”?

Um romance curto mas fascinante que levanta vários dilemas morais, que nos interroga sobre as motivações e as circunstâncias que nos levam a cometer erros de que nos arrependemos mais tarde. Um livro extraordinariamente bem escrito, num estilo simultaneamente poético e contido.

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