quarta-feira, 24 de julho de 2019

A Bolsa

A Bolsa de Max Webber

Max Webber (1864-1920) é um dos fundadores da Sociologia e um dos maiores pensadores do nosso tempo, deixando uma vasta obra que ainda hoje inspira largas franjas dos estudos sociais.

Neste livro, publicado em1894 depois de uma grave crise financeira mundial, Webber descreve o funcionamento das principais bolsas do seu tempo, identificando os vários intervenientes e as operações bolsistas mais relevantes.

Desde logo distingue dois tipos de bolsas: as de mercadorias, onde se transaccionam cereais e outros produtos agrícolas e minerais, das de valores onde se compram e vendem títulos de dívida, acções e divisas.

Nos intervenientes descreve-nos principalmente as funções de comissionista (broker) e a de corretor e explica-nos como as bolsas estão organizadas nos diversos países. Mais fechadas, elitistas, exclusivas e profissionais nos Estados Unidos, mais abertas e amadoras na Alemanha.

As operações à vista são rapidamente abordadas para depois se deter longamente nas operações a prazo, aquelas em que comprador e vendedor comercializam um activo, fechando entre si o preço, com semanas de antecedência relativamente ao dia em que a venda efectivamente se fará.

Sobre a especulação explica que para que esta ocorra são necessárias três condições. “Primeira: ser possível especular sem que se seja detentor de avultados capitais próprios. Segunda: possibilitar que a mesma quantidade de mercadorias seja utilizada não apenas numa, mas em várias transacções especulativas. Terceira: não só poder, assim, comprar especulando numa esperada subida dos preços para vender depois mais caro, mas também poder vender especulando numa esperada descida dos preços para comprar depois mais barato”.

Mas Webber vai mais longe do que a simples dissecação da Bolsa e do seu funcionamento, reflecte sobre a sua função social e económica, suas vantagens e desvantagens.

Do lado das desvantagens alerta para os malefícios que podem derivar da especulação, nomeadamente para os pequenos investidores ignorantes que ciclicamente perdem o seu dinheiro na voragem das crises. Para evitar estes males propõem que os pequenos investidores sejam afastados da Bolsas e que não possam participar das suas negociações quer directamente quer indirectamente. Só os conhecedores, conscientes dos riscos, deveriam poder aceder à negociação bolsista. Esta medida foi já implementada várias vezes, a última das quais depois da crise de 2008.

Mas do lado das vantagens Webber lista muitas e decisivas. Desde logo a protecção contra as flutuações de preços das mercadorias e dos valores recordando que a especulação visa “um objectivo comercial bem real e sério: a vontade de obter uma garantia contra o risco de uma flutuação de preços, pelo que a omissão dessa garantia, dada pela realização da operação a prazo, seria tão irresponsável como não tomar previdências contra o risco de incêndio”. A especulação vista assim como um seguro contra as alterações de preços.

Um excelente livro indispensável a quem queira conhecer ou participar neste mundo fascinante das Bolsas.

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