terça-feira, 6 de agosto de 2019

Histórias de Cronópios e Famas

Histórias de Cronópios e Famas de Julio Cortázar

Pequenos e estranhos textos de tons surrealistas agrupados em quatro conjuntos distintos.

O primeiro grupo intitulado Manual de Instruções contém indicações sucintas mas sempre muito precisas e exatas sobre como desempenhar algumas tarefas tão diversas como cantar, chorar ou subir uma escada, esta última mais complexa de ensinar dada “a coincidência de nomes entre o pé e o pé” que “torna a explicação difícil”.

A segunda parte sob a designação Ocupações Raras descreve ocupações pouco usuais como Caçar o Jaguar ou desempenhadas de forma inusitada como Comportamento em Velórios ou nos Correios e Telecomunicações, ou ainda idiossincrasias familiares como em Tia em Dificuldades. A abordagem é clara e maravilhosamente encapsulada na frase “A fim de lutar contra o pragmatismo e contra a horrível tendência de prosseguir fins úteis…”.

Essa é uma ideia que perpassa em todo o livro, a fuga ao repetitivo, ao constante, ao aborrecido quotidiano e a procura do inventivo inútil, da agradável, do único, do imaginativo.  

Em Material Plástico encontram-se os melhores textos os mais marcadamente inovador que fere e encanta – “O verdadeiramente novo faz medo ou maravilha. Estas duas sensações igualmente próximas do estômago acompanham sempre a presença de Prometeu: o resto é comodidade, o que sai mais ou menos bem; os verbos ativos contêm o reportório completo”.

Finalmente em Histórias de Cronópios e Famas, quarta e última parte do livro, são-nos apresentados três caracteres diferentes: os cronópios, os famas e os esperanças. A humanidade assim classificada. A melhor definição destes tipos humanos está no texto Viagens – “Quando os cronópios vão de viagem, encontram os hotéis cheios, os comboios já partiram, chove a potes, os táxis não os querem levar ou pedem imenso dinheiro. Os cronópios não desanimam, pois julgam que isto acontece a toda a gente e, quando se vão deitar, dizem uns para os outros «Bela cidade, belíssima cidade» ”.

Um grande livro.

Julio Cotázar (1914-1984), argentino, tradutor e escritor viveu boa parte da sua vida na Europa.

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