Histórias de Cronópios e Famas de Julio
Cortázar
Pequenos e estranhos textos de tons
surrealistas agrupados em quatro conjuntos distintos.
O primeiro grupo intitulado Manual de
Instruções contém indicações sucintas mas sempre muito precisas e exatas sobre
como desempenhar algumas tarefas tão diversas como cantar, chorar ou subir uma
escada, esta última mais complexa de ensinar dada “a coincidência de nomes
entre o pé e o pé” que “torna a explicação difícil”.
A segunda parte sob a designação Ocupações
Raras descreve ocupações pouco usuais como Caçar o Jaguar ou desempenhadas de
forma inusitada como Comportamento em Velórios ou nos Correios e
Telecomunicações, ou ainda idiossincrasias familiares como em Tia em
Dificuldades. A abordagem é clara e maravilhosamente encapsulada na frase “A fim de lutar contra o pragmatismo e contra
a horrível tendência de prosseguir fins úteis…”.
Essa é uma ideia que perpassa em todo o livro,
a fuga ao repetitivo, ao constante, ao aborrecido quotidiano e a procura do inventivo
inútil, da agradável, do único, do imaginativo.
Em Material Plástico encontram-se os melhores
textos os mais marcadamente inovador que fere e encanta – “O verdadeiramente novo faz medo ou maravilha. Estas duas sensações
igualmente próximas do estômago acompanham sempre a presença de Prometeu: o
resto é comodidade, o que sai mais ou menos bem; os verbos ativos contêm o
reportório completo”.
Finalmente em Histórias de Cronópios e Famas,
quarta e última parte do livro, são-nos apresentados três caracteres
diferentes: os cronópios, os famas e os esperanças. A humanidade assim
classificada. A melhor definição destes tipos humanos está no texto Viagens – “Quando os cronópios vão de viagem, encontram
os hotéis cheios, os comboios já partiram, chove a potes, os táxis não os
querem levar ou pedem imenso dinheiro. Os cronópios não desanimam, pois julgam
que isto acontece a toda a gente e, quando se vão deitar, dizem uns para os
outros «Bela cidade, belíssima cidade» ”.
Um grande livro.
Julio Cotázar (1914-1984), argentino,
tradutor e escritor viveu boa parte da sua vida na Europa.
Sem comentários:
Enviar um comentário