Se numa noite de Inverno um viajante por Italo Calvino
Um livro a um tempo estranho, refletido e
luminoso que nos apresenta como personagens essenciais e surpreendentes o
Leitor e a Leitora.
Estranho, pela mistura de géneros, pela
trama, pela forma intrincada como é apresentado. No interior de um romance
encontramos o ensaio, o conto, embarcamos num saga ao estilo policial, percorremos
labirintos, entramos numa distopia, e rumamos a uma reflexão profunda sobre a
escrita vista de múltiplos ângulos, do escritor ao leitor. A trama que se urde relativamente
linear quando deslindada no final mas labiríntica e intrigante no inicio.
O livro é tributário em largas passagens de
Jorge Luís Borges de que nos chegam fortes ecos nomeadamente no capitulo
intitulado Numa rede de linhas que se intersectam. A ideia do todo contido num
ponto tão cara a Borges surge em passagens como “concentrando os raios, os espelhos curvos podem captar uma do todo”.
O tema do encontro do passado e do presente e da sua interligação e comunicação
presente no autor argentino surge aqui no conto À volta de uma cova vazia,
curiosamente passado na América Latina num ambiente que nos recorda também o
realismo mágico de Juan Rulfo. Outros autores são também convocados e os seus
estilos e temáticas aludidas.
Refletido porque contém diversas secções de
cariz ensaístico sobre a escrita, a elusiva fonte de inspiração do escritor, o
papel do Leitor e as múltiplas formas de assumir esse papel essencial. Será o Escritor
um mero fingidor, retomando o mote de Fernando Pessoa, ou pelo contrário um genuíno
e sincero tradutor do ainda não-dito para a linguagem dos homens.
Um excelente livro sobre a própria
Literatura.
Fiquei curioso, cidades invisíveis foi um dos livros que mais gostei até hoje
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