Cidades Invisíveis por Italo Calvino
Uma reflexão a um tempo imaginativa e
profunda sobre as cidades, a sua configuração física, social e cultural, o seu
papel da vida dos seres humanos, as múltiplas cidades escondidas dentro de cada
uma delas, a simultânea sucessão e justaposição de vidas no interior das urbes.
Com uma fantasia por vezes delirante, num tom
de narrativa de viagem, Marco Polo relatando as suas viagens ao sultão otomano,
o texto é servido por uma escrita fluída e bela, refinada e subtil, que nos
descreve com pormenor os odores dos mercados e dos esgotos, as paisagens
arquitetónicas palacianas e plebeias, as sons do ventos e objetos, as vozes de
poderosos e simples pastores, os sabores e as texturas dos produtos e dos panos.
Um rendilhado requintado que forma a grande metáfora da cidade.
Os temas sucedem-se com rapidez, a memória (“É desta onda que reflui das recordações que
a cidade se embebe como uma esponja e se dilata. Uma descrição de Zaira tal como
é hoje deveria conter todo o passado de zaira”), o tempo (“se sucedem cidades diferentes sobre o mesmo
chão e sob o mesmo nome, nascem e morrem se se terem conhecido”), a comunicação
(“os sinais formam uma língua, mas não a
que julgas conhecer”), a verdade (“a
mentira não está no discurso, está nas coisas”), a armadilha das narrativas
(“aprisiona as palavras obriga-nos a
redizer em vez de dizer”) e tantos outros.
O leitor fica com uma multidão de assuntos
nos quais refletir, pensar e cogitar, fica com matéria para as suas divagações
e devaneios filosóficos.
Ângulos diferentes produzem perceções
diferentes da cidade (“todas as cidades
recebem a sua forma do desertos que se opõem; é assim que o condutor de camelos
e o marinheiro veem Despina, cidade fronteira entre dois desertos”), Italo
Calvino procura revirar as cidades para as poder observar de todos os lados
possíveis, encontrando sempre o novo, o diferente, o intelectualmente deslumbrante.
Uma pequena obra-prima da Literatura mundial.
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