domingo, 26 de janeiro de 2020

Cidades Invisíveis

Cidades Invisíveis por Italo Calvino

Uma reflexão a um tempo imaginativa e profunda sobre as cidades, a sua configuração física, social e cultural, o seu papel da vida dos seres humanos, as múltiplas cidades escondidas dentro de cada uma delas, a simultânea sucessão e justaposição de vidas no interior das urbes.

Com uma fantasia por vezes delirante, num tom de narrativa de viagem, Marco Polo relatando as suas viagens ao sultão otomano, o texto é servido por uma escrita fluída e bela, refinada e subtil, que nos descreve com pormenor os odores dos mercados e dos esgotos, as paisagens arquitetónicas palacianas e plebeias, as sons do ventos e objetos, as vozes de poderosos e simples pastores, os sabores e as texturas dos produtos e dos panos. Um rendilhado requintado que forma a grande metáfora da cidade.

Os temas sucedem-se com rapidez, a memória (“É desta onda que reflui das recordações que a cidade se embebe como uma esponja e se dilata. Uma descrição de Zaira tal como é hoje deveria conter todo o passado de zaira”), o tempo (“se sucedem cidades diferentes sobre o mesmo chão e sob o mesmo nome, nascem e morrem se se terem conhecido”), a comunicação (“os sinais formam uma língua, mas não a que julgas conhecer”), a verdade (“a mentira não está no discurso, está nas coisas”), a armadilha das narrativas (“aprisiona as palavras obriga-nos a redizer em vez de dizer”) e tantos outros.

O leitor fica com uma multidão de assuntos nos quais refletir, pensar e cogitar, fica com matéria para as suas divagações e devaneios filosóficos.

Ângulos diferentes produzem perceções diferentes da cidade (“todas as cidades recebem a sua forma do desertos que se opõem; é assim que o condutor de camelos e o marinheiro veem Despina, cidade fronteira entre dois desertos”), Italo Calvino procura revirar as cidades para as poder observar de todos os lados possíveis, encontrando sempre o novo, o diferente, o intelectualmente deslumbrante.

Uma pequena obra-prima da Literatura mundial.

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