domingo, 8 de julho de 2012

As Origens da Ordem Política

As Origens da Ordem Política de Francis Fukuyama

Uma obra de grande fôlego. Uma história do processo político desde a primitiva organização tribal até ao atual Estado moderno.

Na China apesar da precocidade do Estado centralizado, poderoso e impessoal a prevalência do Direito nunca se efetuou. Nalguns países da Europa a “excessiva” democracia entre os nobres impediu centralização do poder. Noutros o Estado em vez de uma burocracia impessoal, baseada na meritocracia, tornou-se um feudo de famílias poderosas, com o Rei a vender os cargos públicos e a torna-los hereditários. Na India a predominância religiosa travou a centralização do poder e enfraqueceu excessivamente o Estado.

Apenas na Inglaterra e na Dinamarca e depois nos EUA a evolução foi favorável à emergência de Estados impessoais fortes, respeitadores do Direito e assentes em princípios democráticos, assentes em sociedades civis robustas.

Só esta absurda conclusão, que só os EUA são verdadeiramente democráticos, põe em causa todo um esforço hercúleo de análise histórica. Como pode alguém acreditar seriamente que apenas um país (no máximo 3, um dos quais pequeno) em todo o mundo, tem o passado que lhe permite ser democrático, enquanto todos os outros têm estigmas na sua história que os torna total ou parcialmente impróprios para a democracia.

Curiosa a ideia que a Igreja Católica teria destruído a família durante a Idade Média ao advogar que as mulheres pudessem herdar o património dos maridos (principio defendido pela Igreja com o fito de vir a receber esse património por herança após a morte da mulher). Assim fazendo a Igreja eliminou uma série de laços familiares e enfraqueceu a família alargada, reduzindo-a ao núcleo base (casal e filhos). Noutros países a família mais alargada (incluindo tios e primos) manteve-se, fortalecendo bases para um familismo antagónico do individualismo.

Um conflito perspassa toda a obra, por um lado Fukuyama não pode deixar de reconhecer que a estrutura social impele numa dada direcção, isto é que o futuro está dependente do passado, do caminho seguido até ao presente (path dependent), e por outro quer atribuir a maior latitude de acção aos agentes como se fossem completamente livres para moldar o futuro (não estamos presos da história). Não superando este conflito a obra de Fukuyama torna-se, por vezes, contraditória ora creditando à história os meritos de um dado desenvolvimento ora responsabilizando os agentes pelos acontecimentos.

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