segunda-feira, 23 de julho de 2012

Rashómon e outras histórias


Rashómon e outras histórias de Ryúnosuke Akutagawa


Akutagawa é, muito justamente, considerado um dos maiores escritores japoneses. Morto prematuramente aos 35 anos deixou uma obra literária de grande qualidade e beleza.

Contos, organizadamente espraiados pelos vários períodos da história nipónica, que encerram uma subtil lição moral. Em “O Nariz” o herói de pois de conseguir reduzir a seu descomunal penca a um tamanho normal, acaba por concluir que tem de regressar ao seu Eu original se quer manter a sua felicidade, a sua integridade e o respeito dos outros.

Admirável também o conto da “Cabeça cortada”, sobre o soldado chinês a quem cortaram a cabeça no campo de batalha e que promete a si próprio, se sobreviver, dedicar a sua vida ao Bem.

No último conto, Akutagawa, descreve com serena e lúcida objectividade a lenta degradação da sua própria sanidade mental. A angústia, o medo, a insónia e o sofrimento que invadem, sem razão aparente, o seu espírito e o haveriam de levar ao suicídio que antecipa como única solução, são o tema central neste conto.

Apesar de o texto, Engrenagens em Movimento, ser transparentemente autobiográfico e de ser escrito na primeira pessoa, o narrador consegue manter sempre uma admirável distanciação que lhe permite ver que a angústia e o medo que a realidade, sistematicamente interpretada como mau presságio, lhe infunde são doentias e sem fundamento. Mas essa compreensão intelectual, essa consciência, não é suficiente para eliminar o sofrimento, antes mais uma fonte de dor.

Uma obra-prima da literatura mundial. Pena que fossem precisos mais de 100 anos para que o leitor português a possa ler. È caso para dizer “mais vale tarde que nunca”.

Nota final: as inúmeras notas que esclarecem e enquadram aspectos históricos ou culturais japoneses e que são úteis na leitura dos contos poderiam, com vantagem, ter sido colocadas em rodapé.

Sem comentários:

Enviar um comentário