terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Imperfeição do presépio


A Imperfeição do presépio por António Manuel Marques



Uma vida, dura e sofrida, de uma mulher recordada pela própria olhando as fotografias de família que guarda numa caixa de cartão.

A lida rude do campo, a migração para a cidade, o trabalho a dias, a sobrevivência nas barracas sem água nem luz, os filhos que vão nascendo, o marido alcoólico mas trabalhador, as desgraças que lhe batem à porta, tudo é recordado com nostalgia e um certo orgulho dos sobreviventes que com trabalho, sofrimento e persistência suportaram as agruras da existência que lhes coube.

No Portugal da ditadura e do conflito colonial aflige a ausência de revolta, a aceitação da pobreza, o apoio à guerra, a indiferença pelos demais, a dificuldade em juntar esforços com outros iguais por uma ordem melhor. Numa sociedade selvagem a interiorização acrítica do princípio de “cada um por si” pelos mais destituídos e pelos que menos têm a ganhar com ele.

Neste livro não há esperança de um tempo melhor, nem ninguém advoga qualquer mudança. De certa forma, talvez até involuntária, é um livro de cariz católico em que a estoica perseverança na destituição material e espiritual, desde que acompanhada de virtude moral, é louvada e aplaudida.

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