quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O conto da ilha desconhecida

O Conto da Ilha Desconhecida por José Saramago

Um inglês, John Donne, nascido no século XVI, escreveu uma passagem admirável que o celebrizou. “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Saramago discute neste pequeno conto a dicotomia Nenhum homem é uma ilha isolada / Todos o homem é uma ilha isolada, oscilando entre a necessidade de partir à descoberta da ilha desconhecida que somos (“Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma”) e a impossibilidade de a descobrir que não seja no contato e em interação com os outros (“Se não sais de ti, não chegas a saber quem és”).

O conto tem várias leituras sobrepostas, funcionando como literatura infantil, como reflexão filosófica sobre a existência e como crítica política sobre a organização do Reino.

A atmosfera onírica que envolve a narrativa, a linguagem simples e direta, o ritmo induzido pela pontuação, unem as várias camadas tectónicas de significado e oferecem-nos tanto em tão poucas palavras.

Uma pequena relíquia.

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