sábado, 8 de março de 2014

Mário e o Mágico

Mário e o Mágico de Thomas Mann

Numa pequena aldeia piscatória italiana transformada em estação veraneante as férias de verão estão a terminar, os italianos a regressar às cidades e os estrangeiros a vagar os hotéis, quando chega o mágico Cipolla.  

A sala de espectáculo enche-se de publico para ver os prodígios deste homem. Entre o público está Mário, um jovem humilde empregado de mesa. O mágico é na verdade um extraordinário hipnotizador capaz de impor a sua vontade a qualquer um, mesmo os mais renitentes, são obrigados a fazer o que lhes ordena.

Dominando totalmente a plateia pelo seu verbo fácil, pela força da sua personalidade o Mágico leva Mário a humilhar-se para gáudio da plateia que se sente cada vez mais intimidada e submetida. A resposta do jovem se bem que terrível é sentida por muitos como libertadora.

Thomas Mann volta aqui a abordar, sem bem que indirectamente, a diferença entre os latinos a que chama meridionais e os nórdicos em que se inclui. O carácter racista da comparação é bem evidente, já que os meridionais são descritos se pertencentes às classes laboriosas como ingénuos, manipuláveis, subservientes, palavrosos, falando com bonitos, mas ocos, floreados, se pertencentes às classes altas como arrogantes e prepotentes (o narrador é expulso do seu quarto de hotel devido a uma queixa da sua vizinha amedrontada com a possibilidade de contagio de uma doença já debelada).

Alguns críticos vêm neste conto uma metáfora critica ao fascismo italiano. Mas é preciso imaginação para o fazer, já que em momento nenhum o autor lança a mais pequena pista sobre essa possibilidade de leitura. Uma leitura claramente forçada. O que fica sem dúvida é forma preconceituosa como Mann, e com ele muitos alemães, vê os povos do Sul.

1 comentário:

  1. Thomas Mann tinha mãe brasileira, com sangue indígena inclusive. Mais improvável que ostentasse qualquer restrição aos "povos do sul" do que efetivamente procurasse ensaiar estudo sobre a manipulação coletiva e a aniquilação do indivíduo, própria da demagogia fascistas ascendente naquele momento. Outros pontos do enredo retratam o nacionalismo em voga então, como o tratamento dado à família no Grande Hotel, que os faz hospedarem-se em modesta parada.

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