domingo, 12 de outubro de 2014

O Amante por Marguerite Duras


Uma jovem adolescente francesa vivendo na Indochina francesa é empurrada pelas circunstâncias familiares para uma relação pedofila com um milionário chinês. O papel da família, nomeadamente da Mãe, louca e obcecada por projectos megalómanos, e do irmão mais velho, um jovem irresponsável, preguiçoso e viciado no jogo, é escalpelizado com crueza e sem sentimentalismos.

A relação que se inicia com a oferta de um cigarro numa barcaça que atravessa as agua revoltas do rio Meckong quando a jovem, de 15 anos. Nessa altura a rapariga abandona o autocarro que a levaria ao colégio interno que frequentava e entra no luxuoso automóvel com motorista daquele que viria a ser o seu amante durante mais de um ano. A pobreza, mas mais importante a falta de adequada supervisão e protecção da família colocam a jovem num risco que se veio a concretizar, ou numa interpretação mais horrenda que desejavam que se concretizasse.

Esta relação vai para sempre marcar indelevelmente a personagem e inquinar definitivamente as suas relações com a Mãe e o irmão que nada fizeram para resgatar a criança desses abusos continuados. Pelo contrário aproveitaram ao máximo as pequenas migalhas, jantares em restaurantes elegantes, pequenos presentes, que o milionário lhes estendia e incentivando-a até a tentar obter vantagens financeiras.

Um livro violento em que as memórias fluem a par com uma reflexão profunda, mas eivada de ressentimento e ódio, sobre esta relação proibida analisada pelo prisma da vítima.


Muito curioso o facto de o abusador, o amante, ser visto como um agente da sua mãe e do seu irmão mais velho para lhe fazer mal e não um verdadeiro criminoso pedófilo. O seu comportamento criminoso é praticamente apagado naquilo que pode ser interpretado como uma versão da síndrome de Estocolmo em que a vítima se solidariza com o seu agressor. 

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