terça-feira, 29 de agosto de 2017

Numa pensão alemã

Numa pensão alemã por Katherine Mansfield

Um conjunto de 14 pequenos contos passados numa estância de férias alemã para onde se retiram as classes abastadas para fruir de uma temporada de ócio, de convívio e de revigoramento a que chamam de “cura”.

Katherine Mansfield, a escritora neozelandesa cedo radicada no Reino Unido, capta aqui com perspicácia os traços do caracter germânico e revela-o com uma técnica a um tempo simples e muito eficaz.

Mansfield expõe e ridiculariza a presunção alemã, que pensando-se superior aos demais baseia essa errada conclusão na ignorância dos outros e dos factos, e mostra à crua luz do dia e da razão as fraquezas dos costumes, os erros do pensamento e a imoralidade de muitas das atitudes dos alemães.

Em A Irmã da Baronesa, em que a criada é confundida com a irmã da baronesa, mostra a atitude subserviente dos alemães para com aqueles que julga superiores, nomeadamente os membros da aristocracia. Esta característica surge igualmente de forma muito explícita em o Barão um conto sobre um nobre solitário de hábitos extravagantes.

Em Alemães à Mesa patenteia a ignorância dos alemães relativamente aos hábitos ingleses o que não os impede de os criticar, e revela a diferença das relações entre marido e mulher nos dois países, mais igualitária em Inglaterra e mais subalterna, obediente e deferente na Alemanha.

Muitos contos terminam com um comentário, por vezes em tom sarcástico, que revelam toda a realidade por de trás de uma complexa teia psicológica.

Incluído neste livro, mas de tema completamente diverso é A Criança-que-estava-cansada, uma história trágica e comovente de uma criança que serve como criada, limpando o chão, lavando a roupa, preparando a comida, tomando conta dos filhos dos patrões, numa casa de um casal de burgueses alemães que a obrigam a trabalhar longas horas sem descanso nem comida. Os efeitos do extremo cansaço e da privação do sono acabam por se revelar aterradores.

Publicado em 1911 este foi o primeiro livro publicado pela autora que, tendo vivido uma existência atribulada e cheia, morreu prematuramente de tuberculose em 1923 aos 34 anos, os contos baseiam-se na experiência da sua estadia nas conhecidas termas de Bad Wörishofen na Baviera.

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