As Viagens Essenciais de Mário Máximo
Um livro de poesia de Mário Máximo de cariz
introspetivo, memorialista e sensual, em que as viagens se fazem no interior da
alma do poeta sem exigir outras deslocações.
Adotando nestes poemas uma postura
excessivamente virada para dentro, para o seu próprio umbigo, Mário Máximo,
acaba por cair num vazio existencialista, desolado, deserto e desalentado. A estrutura do livro reflete esse fechamento
sobre si mesmo, com os poemas iniciais ainda mantendo um contacto com a
realidade exterior e depois pouco a pouco esta vai ser gradualmente mas
completamente substituída pela realidade interior.
Esse enclausuramento não passa desapercebido
ao poeta que escreve “Os instantes de
vida sucedem-se e sinto-me encurralado. / Preso atrás de uma janela para a qual
construí as grades”.
Um pequeno poema premonitório:
“O fogo
alastra
Vai
consumindo mato e árvores. Chega às primeiras casas.
Aproxima-se
das pessoas …”
Retenho algumas estrofes que ressoam com a
minha forma de encarar a vida e a intervenção na sociedade “Tudo é possível, agora eu o sei. E também as
/ utopias podem ser realizadas, / apesar dos corações descrentes / e das almas
sem espírito de conquista” e mais à frente “As viagens essenciais só podem encontrar destino / no seu improvável fim.
Talvez ao partir saibamos/ algumas das regras do jogo. Mas as outras regras /
surgirão durante a caminhada. / E apenas no momento último de cada uma dessas
viagens essenciais / podemos redigir o mapa das estações sublimes”.
Interessante a forma como caracteriza o
presente “O mundo voltou aos momentos de
tristeza mas ainda não é tempo / de grande guerra. / Um clima cinzento vai
retirando o prazer / das coisas simples de ser. O medo do futuro voltou / a
constituir ameaça. Mesmo nos lugares / onde tal sentimento costumava ser
improvável”.
Excelentes algumas formulações como “o paraíso do voo”, “o cheiro a eternidade”, “frenesim de dados”, “fragrância que dourava o rosto de cada silaba”, “A noite é um lugar e um clima”. Mas infelizmente
também um conjunto de lugares comuns como “missivas
secretas”, “imaginações férteis”
entre outras.
Uma edição, da Fonte da Palavra, pejada de
gralhas e erros tipográficos que obstroem a leitura, desfazem o ritmo,
dificultam a compreensão. Um trabalho amador e deficiente que o autor não
merecia.
Aquando da publicação deste livro, em 2011,
já Mário Máximo ostentava o merecido estatuto de poeta lusófono consagrado e
com vasta obra publicada. Apesar de viver em Portugal a sua obra mantém-se, por
incúria de editoras e autoridades culturais, pouco divulgada junto do grande
público.
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