quarta-feira, 21 de novembro de 2018

As Viagens Essenciais

As Viagens Essenciais de Mário Máximo

Um livro de poesia de Mário Máximo de cariz introspetivo, memorialista e sensual, em que as viagens se fazem no interior da alma do poeta sem exigir outras deslocações.  

Adotando nestes poemas uma postura excessivamente virada para dentro, para o seu próprio umbigo, Mário Máximo, acaba por cair num vazio existencialista, desolado, deserto e desalentado.  A estrutura do livro reflete esse fechamento sobre si mesmo, com os poemas iniciais ainda mantendo um contacto com a realidade exterior e depois pouco a pouco esta vai ser gradualmente mas completamente substituída pela realidade interior.

Esse enclausuramento não passa desapercebido ao poeta que escreve “Os instantes de vida sucedem-se e sinto-me encurralado. / Preso atrás de uma janela para a qual construí as grades”.

Um pequeno poema premonitório:
O fogo alastra
Vai consumindo mato e árvores. Chega às primeiras casas.
Aproxima-se das pessoas …

Retenho algumas estrofes que ressoam com a minha forma de encarar a vida e a intervenção na sociedade “Tudo é possível, agora eu o sei. E também as / utopias podem ser realizadas, / apesar dos corações descrentes / e das almas sem espírito de conquista” e mais à frente “As viagens essenciais só podem encontrar destino / no seu improvável fim. Talvez ao partir saibamos/ algumas das regras do jogo. Mas as outras regras / surgirão durante a caminhada. / E apenas no momento último de cada uma dessas viagens essenciais / podemos redigir o mapa das estações sublimes”.

Interessante a forma como caracteriza o presente “O mundo voltou aos momentos de tristeza mas ainda não é tempo / de grande guerra. / Um clima cinzento vai retirando o prazer / das coisas simples de ser. O medo do futuro voltou / a constituir ameaça. Mesmo nos lugares / onde tal sentimento costumava ser improvável”.

Excelentes algumas formulações como “o paraíso do voo”, “o cheiro a eternidade”, “frenesim de dados”, “fragrância que dourava o rosto de cada silaba”, “A noite é um lugar e um clima”. Mas infelizmente também um conjunto de lugares comuns como “missivas secretas”, “imaginações férteis” entre outras.

Uma edição, da Fonte da Palavra, pejada de gralhas e erros tipográficos que obstroem a leitura, desfazem o ritmo, dificultam a compreensão. Um trabalho amador e deficiente que o autor não merecia.

Aquando da publicação deste livro, em 2011, já Mário Máximo ostentava o merecido estatuto de poeta lusófono consagrado e com vasta obra publicada. Apesar de viver em Portugal a sua obra mantém-se, por incúria de editoras e autoridades culturais, pouco divulgada junto do grande público.

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