Caros Fanáticos de Amos Oz
Uma obra que junta habilmente três escritos independentes
e produzidos em épocas diferentes sequenciando-os de maneira a lhes dar uma
unidade lógica e uma coerência interna.
O primeiro, que dá título ao conjunto, aborda
o tema do fanatismo é um exercício interessante mas essencialmente falhado. A
superficialidade da análise e a dificuldade em elevar-se a um nível teórico são
evidentes, limitando-se o autor a refletir sobre algumas das características /
traços do fanatismo sem conseguir penetrar a fundo no tema.
Essas dificuldades são evidentes quando
enumera várias características do fanatismo que logo tem que admitir que não
são exclusivas deste fenómeno – “É óbvio
que nem todos os que erguem a voz a favor ou contra algo são fanáticos, nem
todos os que protestam violentamente contra a injustiça se tornam por isso
fanáticos. Nem pode ser acusado de fanático todo aquele que tem opiniões
incisivas e cortantes”. Outras que aponta como a falta de sentido de humor
estão mesmo muito longe de ser sequer indícios de fanatismo.
O segundo ensaio aborda o sionismo e a
cultura judaica procurando contrapor a pureza e pluralidade tradicional ao
fanatismo religioso que constata existir em Israel – “Não somos diferentes uns dos outros apenas porque alguns de nós ainda
não viram a luz, antes porque no mundo existem muitas luzes e não uma única luz”.
Uma frase com que poderíamos concordar não fora aquele perigoso “apenas” que
valida parcialmente o que parece condenar.
A adesão assumida ao sionismo leva-o a
alterar a verdade história quando fala de Menachem Begin e da sua suposta ordem
relativa ao tratamento dos prisioneiros palestinos. Na verdade Begin foi um dos
militantes e lideres do Irgun um grupo terrorista cujas ações mais conhecidas
foram a colocação de uma bomba no Hotel Rei David que matou 91 pessoas e feriu
várias outras dezenas, e o massacre de Deir Yassin em 1948 quando os membros do
Irgun invadiram a aldeia palestina de Deir Yassim e mataram centenas de
palestinos. Como primeiro-ministro e chefe do Likud as suas mãos mancharam-se
de sangue novamente em inúmeras ocasiões.
O seu ponto contudo neste segundo ensaio é a
defesa da democracia israelita contra o fanatismo extremo do judaísmo que
pretende eliminar a democracia formal e adotar uma constituição racista com um
ainda mais férreo apartheid sobre os palestinos, afastando os laicos e impondo a
ortodoxia religiosa.
O terceiro ensaio é sobre o futuro de Israel.
Amos Oz é um defensor da solução de dois Estados: um Israelita e outro
Palestino. Tem razão. É a posição defendida unanimemente pelos palestinos, da
OLP ao Hamas, e pela comunidade internacional. A defesa desta solução, sempre
do ponto de vista da segurança do Estado israelita e nunca de uma perspetiva
humanista ou de justiça, é eloquente – “porque
nós judeus israelitas não sairemos daqui. Não temos para onde ir. E os
palestinos também não sairão daqui. Também não têm para onde ir”.
Um livro interessante de um sionista que
olhando para o futuro procura encontrar soluções de Paz duradoiras. Infelizmente
pouco escutado em Israel e no mundo judaico.
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