Balada de Amor ao Vento de Paulina
Chiziane
A sociedade rural moçambicana com a sua organização
tradicional, com o seu sincretismo capaz de aglutinar as tradições animistas
com os seus curandeiros e feiticeiras com a religião cristã, o colonialismo com
a sua violência e crueldade, são o pano de fundo para esta história de amor
entre uma rainha e um plebeu.
Uma crítica mordaz e feroz da poligamia de alguns
povos moçambicanos, das suas práticas casamenteiras e da violência sobre as
mulheres presente nessas sociedades tradicionais. Critica que contudo pode, por
vezes, parecer não levar em conta a história e o contexto em que essas práticas
se desenvolveram. Mas o amor que se sente genuíno e profundo que a autora
revela por esse povo simples redime qualquer leve vestígio de etnocentrismo.
A sabedoria popular “nem todas as lágrimas são tristezas, nem todos os sorrisos são alegrias.
Os teus antepassados fremiam de dor, mas cantavam belas canções quando partiam
para a escravatura. Os mortos vestem-se de gala quando vão a enterrar. Os vivos
semeiam jardins nos túmulos tal como hoje te oferecemos flores. Os condenados
sorriem quando caminham para o cadafalso mas choram quando são libertados”,
a força do amor “a trama dos meus dedos
pesca cardumes de raminhos secos, pedrinhas, folhinhas perdidas, bolinhos de
areia, meu Deus eu sou a faúlha, eu faísco, meu marido é palha de coco, o meu
marido é lenha de sândalo, é petróleo para eu acender, para juntos ardermos,
juntos explodirmos com o ribombar do nosso amor” são temas presentes
admiravelmente tratados.
O desejo de vida, de realização “sentia que vida devia ser algo mais do que
nascer, sofrer, lavrar e morrer” leva-nos a abandonar o que temos e a
recomeçar sempre na busca incessante da felicidade “descobriu que o ser humano tem várias mortes em vida, possuindo também
poderes de autorressurreição”, para no final encontrar a paz junto dos que
ama verdadeiramente.
Uma escrita bela e poética, um ambiente que
mantendo-se realista nos transmite a espaços uma atmosfera onírica carregada de
significados e premunições.
Paulina Chiziane (n. 1955) é uma escritora
moçambicana, a Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, foi o seu primeiro
romance. Em 2003 ganhou o Prémio José Craveirinha pelo seu livro Niketche: Uma
História de Poligamia.
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