Tomaz, o Impostor de Jean Cocteau
Uma pequena novela com as aventuras do jovem
impostor Guilherme Tomaz durante a I Guerra Mundial.
Sérgio Godinho perguntava “Pode alguém ser quem não é?” e Fernando
Pessoa décadas antes escrevera que o “O
poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A
dor que deveras sente”.
Jean Cocteau apresenta-nos um jovem cuja vida
e morte respondem bem às interrogações do canta-autor e estendem as
constatações de Fernando Pessoa ao comum dos mortais – “Sentiu então uma pancada horrível no peito. Caiu. Tornava-se surdo,
cego. Uma bala – pensou de si para si. Se não finjo que morri, estou perdido. Mas
nele, ficção e realidade confundiam-se. Guilherme Tomaz morrera”.
A guerra das trincheiras, a morte constante e
absurda, a leviandade das elites “Os
soberanos moravam ali com os infantes, encantados pelo imprevisto e pela
bicharada de capoeira a que não estavam habituados”, a cobardia da
sociedade fina, tudo é mostrado com a ingenuidade de uma criança que diz uma
verdade.
Numa guerra sem sentido “O sangue coagulava nas fardas esfarrapadas que, não tendo já nem cor
definida, nem contorno exato, eram todas iguais umas às outras, não se
distinguindo as alemãs das francesas. Unia-as uma grande estupefação”.
Sobre o mérito retenho “Um homem verdadeiramente profundo não sobe, enterra-se. Muitos anos
depois da sua morte, descobre-se de repente, ou pouco a pouco, o que na
realidade valia. Ao contrário essas inteligências medíocres, feitas de golpe de
vista e de ironia, sobem sem dificuldade todos os degraus do Poder”.
A par de Tomaz deambulam uma Princesa polaca
e a sua filha Henriqueta, e um conjunto de outros personagens que em ambiente onírico
se passeiam como sonâmbulos pelos cenários de morte e desolação que a guerra
cria.
Tomaz, o Impostor foi adaptado ao cinema em
1964 por George Franju (1912-1987) num filme que contou com a fantástica atriz
francesa Emmanuelle Riva (1927-2017).
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