quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Tomaz, o Impostor

Tomaz, o Impostor de Jean Cocteau

Uma pequena novela com as aventuras do jovem impostor Guilherme Tomaz durante a I Guerra Mundial.

Sérgio Godinho perguntava “Pode alguém ser quem não é?” e Fernando Pessoa décadas antes escrevera que o “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente”.

Jean Cocteau apresenta-nos um jovem cuja vida e morte respondem bem às interrogações do canta-autor e estendem as constatações de Fernando Pessoa ao comum dos mortais – “Sentiu então uma pancada horrível no peito. Caiu. Tornava-se surdo, cego. Uma bala – pensou de si para si. Se não finjo que morri, estou perdido. Mas nele, ficção e realidade confundiam-se. Guilherme Tomaz morrera”.

A guerra das trincheiras, a morte constante e absurda, a leviandade das elites “Os soberanos moravam ali com os infantes, encantados pelo imprevisto e pela bicharada de capoeira a que não estavam habituados”, a cobardia da sociedade fina, tudo é mostrado com a ingenuidade de uma criança que diz uma verdade.

Numa guerra sem sentido “O sangue coagulava nas fardas esfarrapadas que, não tendo já nem cor definida, nem contorno exato, eram todas iguais umas às outras, não se distinguindo as alemãs das francesas. Unia-as uma grande estupefação”.

Sobre o mérito retenho “Um homem verdadeiramente profundo não sobe, enterra-se. Muitos anos depois da sua morte, descobre-se de repente, ou pouco a pouco, o que na realidade valia. Ao contrário essas inteligências medíocres, feitas de golpe de vista e de ironia, sobem sem dificuldade todos os degraus do Poder”.

A par de Tomaz deambulam uma Princesa polaca e a sua filha Henriqueta, e um conjunto de outros personagens que em ambiente onírico se passeiam como sonâmbulos pelos cenários de morte e desolação que a guerra cria.  

Tomaz, o Impostor foi adaptado ao cinema em 1964 por George Franju (1912-1987) num filme que contou com a fantástica atriz francesa Emmanuelle Riva (1927-2017).

Jean Cocteau (1889-1963) foi um talentoso escritor, artista e cineasta francês.

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