Identidades
por Francis Fukuyama
Como
definimos a nossa identidade? Sobre valores e experiências partilháveis ou
sobre experiências vividas, não partilháveis este é o dilema que Fukuyama
apresenta e que pensa ser o problema central da política atual e da emergência
da extrema-direita apelidada de populista.
Uma
certa esquerda, a partir dos anos 70, pensando erradamente estar numa sociedade
de bem-estar geral, pós-capitalista e pós-moderna, alienou a sua base
trabalhadora e entrincheirou-se exclusivamente na defesa dos direitos de minorias
étnicas, de género (movimento LGBT) perdendo de vista as causas profundas da
discriminação destes grupos.
Foi
uma solução útil porque lhe permitiu alinhar-se com as classes dominantes já
que os direitos que defendia para as minorias não implicavam qualquer cedência económica
e, na verdade, esses direitos foram conquistados, muitas vezes, a troco de
cedências económicas ao patronato.
Veja-se
a evolução a partir dos anos 80 em Portugal nas políticas conduzidas pelo PS e
BE. Nesse ponto concordamos com Fukuyama quando escreve “muita da esquerda parou de pensar há várias décadas sobre políticas
sociais ambiciosas que pudessem ajudar a remediar as condições de base dos
pobres. Era mais fácil falar de respeito e dignidade do que apresentar planos
potencialmente dispendiosos que reduzissem concretamente a desigualdade”.
Também
concordamos com Fukuyama quando afirma que “a
diversidade não pode ser uma base de identidade por si só e em si mesma”.
Uma nação, para sobreviver como sociedade coesa tem de ter uma identidade que
agregue as pessoas com diversas identidades étnicas, religiosas, de género, linguísticas
ou outras. Sem esse chapéu agregador a sociedade tende a atomizar-se e a
permitir o domínio do grupo economicamente mais forte.
Concordamos
igualmente que esse cimento agregador, essa identidade coletiva, deve ter uma
base “doutrinal” e ser “socialmente construído” e não ter por
base a etnia, a religião o género ou a língua.
Obviamente
discordo da “doutrina”, a doutrina da
democracia liberal norte-americana, que propõe como agregadora. Aqui Fukuyama
cego pela ideologia não vê que foi essa doutrina que criou a atual situação de
fragmentação que como ele próprio refere está na base do populismo de
extrema-direita. Outra doutrina é necessária.
Fukuyama,
contudo, põe o mundo às avessas e adota uma visão idealista do mundo, em que
são as ideias a moldar a realidade e não o contrário. De facto a fragmentação
das identidades, a deriva de uma certa esquerda, são consequências e não
causas. São consequências da dominação mundial das multinacionais, da
mundialização económica e do seu sistema neoliberal imposto à maioria dos
países e que implica a desregulamentação financeira, económica, laboral e
cultural. Os Estados mais frágeis entraram em colapso e tornaram-se estados
falhados com a ajuda de intervenções externas. A ideologia da fragmentação das
identidades é fruto deste novo estádio de desenvolvimento económico e social.
Por
outro lado essa fragmentação tem uma base material. É inegável o racismo, a desigualdade
de género, a luta pela igualdade da comunidade LGBT, a luta pelo reconhecimento
das línguas e culturas minoritárias. O que é necessário não é suprimir essas
lutas, mas sim integra-las numa identidade mais vasta assente em princípios e
valores de justiça, igualdade e numa doutrina de libertação da Humanidade.
Francis
Fukuyama, é um cientista político norte-americano, muito alinhado com a
política externa norte-americana, e que se celebrizou com a sua obra de 1989, O
Fim da História em que defendeu que a Humanidade tinha chegado ao seu último
estádio, a democracia liberal, e que para ela não haveria qualquer alternativa.
Sem comentários:
Enviar um comentário