Sapiens – de Animais a Deuses de Yuval
Noah Harari
Um livro muito bem escrito, acessível, empolgante,
bem argumentado, mas em muitas áreas contraditório, acientífico, reducionista e
muito pouco fundamentado.
Harari apresenta-nos aqui uma sintética,
polémica e muito arrojada história da Humanidade, desde o tempo em que a terra
era povoada por várias espécies humanas – o Neandertal e o Sapiens conviveram
em tempos remotos – até aos dias de hoje em que, segundo a sua perspetiva,
estamos à beira de nos transformarmos em deuses imortais.
A pouca História do livro mescla-se assim com
a ficção científica e ergue-se sobre uma escolha seletiva e propositada dos
factos passados que conduza à conclusão desejada.
Desde logo Harari afasta-se das teses do
progresso da História defendendo a tese absurda de que em ao longo do tempo os
acontecimentos se sucederam de forma aleatória sem direção definida, mas
simultaneamente defende que de meros animais estamos a transformar-nos em
deuses, depois de dominar as leis da física e da natureza. Eis como junta numa amálgama
duas ideias contraditórias: a ausência de progresso e a evolução humana. Esta
contradição entre a aleatoriedade e evolução está bem patente ao longo de toda
a obra.
Polémica, mas arrojada, mas falsa é a ideia
de que durante a Revolução agrícola, quando o ser humano primevo começou a cultivar
a terra, foram os cereais a domesticar-nos e não o contrário. Em defesa da sua
tese aponta a limitada superfície da terra em que os cereais cresciam nessa
época e a área, muito mais vasta, coberta hoje por estas plantas. Os cereais
teriam assim usado o ser humano para se expandir.
Tese interessante é a da unificação política
e cultural da Humanidade sob a influência de três forças formidáveis: a
religião, o mercado e os impérios. Novamente acreditando na aleatoriedade Harari
defende que desde os tempos primitivos até hoje a Humanidade se tem estado a
unificar e da imensa diversidade de religiões hoje apenas duas ou três (cristianismo,
budismo e islamismo) reúnem os seres humanos, a cultura científica que hoje se
impôs tem vindo a substituir as restantes culturas, e os impérios cada vez mais
alargados (o romano limitado ao Mediterrâneo, a inglês em que o sol nunca se
punha, e hoje o americano prestes a dominar todo o planeta).
Outra tese interessante é que o ser humano,
através da biologia, da química e da genética está a beira de se tornar amortal
(isto é que não morre, ou imortal). A verdade porém é que se bem que a
esperança de vida tenha vindo a aumentar o facto permanece que mesmos os mais
bem cuidados e acompanhados do ponto de vista clínico não têm ultrapassado os
110 anos, o que segundo muitos aponta para um limite natural do organismo
humano.
Finalmente a transformação em deuses através
da ciência, no sentido de: nos transformarmos em super-homens e de criar novas
vidas na terra. A palavra deuses dá um relevo a factos que se estão a passar
sob os nossos olhos. As plantas e animais geneticamente modificados estão já
entre nós e o próximo passo será modificar o próprio ser humano. A criação de
inteligências artificiais não orgânicas e a integração homem-máquina também
despontam. Esses são desenvolvimentos reais que é preciso encarar e regular
para que se não transformem em pesadelos, mas que não pressupõem a mudança de
estatuto do ser humano – continuaremos a ser meros animais.
Estou a ler neste momento Homo Deus, que parte da premissa que com a evolução da ciência e a adoção do humanismo nos estamos a tornar em deuses... só que esta mudança tem as sementes da sua autodestruição... embora a mais de metade, estou a adorar o livro.
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