Do Monte Cara vê-se o Mundo de Germano
Almeida
A cidade do Mindelo na ilha de São Vicente é
o cenário deste romance de Germano Almeida o consagrado escritor cabo-verdiano
vencedor do Prémio Camões em 2018.
Tendo como personagem central um octogenário
Pepe a trama cobre um período longo de tempo quer antes quer depois da
independência do arquipélago atlântico, permitindo ao autor falar de temas como
o movimento da Claridade, a inauguração do primeiro cinema da ilha, as revoltas
contra o jugo colonial e outros. Pena é que apenas os mencione ao faça ao
correr da pena sem sobre eles se deter, o que poderia dar uma outra densidade e
profundidade histórica quer à figura de Pepe quer à obra.
Na realidade o livro foca-se quase
exclusivamente sobre a vida sexual dos diversos personagens, enumerando
parceiros, relatando práticas, detendo-se a cada passo para descrever as cenas
da intimidade de cada um. A vida de Júlia é escalpelizada ao detalhe, numa
cronologia rigorosa dos homens da sua vida, o mesmo acontecendo com a sua mãe.
Na verdade Pepe, o personagem central, acaba, com algumas décadas de intervalo,
na cama com as duas.
Dos temas que eivam a Literatura
Cabo-verdiana a emigração também aqui é aflorada na sua vertente de destino
Roterdão. A fome não é aqui abordada uma vez que grande parte da história se
passa já depois da independência, embora pela idade e pelas lembranças da
Claridade, Pepe tivesse idade para as ter experimentado, nomeadamente a grande
fome de 1947 que ceifou milhares de vidas perante a indiferença do poder
colonial português.
Como muitos autores cabo-verdianos, Germano
Almeida, não resiste a incluir na língua portuguesa algumas expressões da
língua cabo-verdiana, nomeadamente algumas relativas ao tópico sexual do livro
e outras já mais gastas e conhecidas. Esta prática que teve o seu tempo em
autores como Manuel Lopes contínua presente na escrita de alguns autores
contemporâneos passados mais de 50 anos.
Depois de obras como O Testamento do Sr. Napumoceno
da Silva Araújo não podemos deixar de considerar que este livro é título menor
na vasta obra de Germano Almeida.
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