sábado, 24 de maio de 2025

A Poesia Palestina do Século XX

 

 

A Poesia Palestina do Século XX

 

Uma muito cuidada e criteriosamente escolhida coletânea de poetas e poetisas da Palestina nascidos no século XX, complementada por um texto introdutório de Júlio de Magalhães, especialista de Literatura árabe.

 

Abre Fadwa Tuqan (1917-2003), nascida em Nablus cidade onde viveu grande parte da sua vida e onde veio a morrer. No poema “O Dilúvio e a Árvore” lê-se no que mantém toda a atualidade “Os céus ocidentais ressoam com explicações de regozijo: / «A Árvore caiu! / O grande tronco está esmagado. O furacão deixou a árvore se vida!» ” mas relembra que esta árvore tem “Raízes árabes vivas / penetrando profundamente na terra” e prevê que “Quando a Árvore se erguer, os ramos / vão florir verdes e viçosos ao sol”.

 

Segue-se Tawfiq Zayyad (1929-1994), que foi presidente da Câmara de Nazaré e depois Samih Al-Qasim (1939-2014) e May Sayigh (1940-2023), presidente da União das Mulheres da Palestina com a sua interpelação “Deixa eu os rios abandonem as nascentes / que os ventos abandonem o céus, / e que os mares sequem! / Tudo no universo tem um fim / Exceto o meu sangue derramado”.  

 

Outros poetas presentes incluem Murid Barghuty (1944-2021), Ahmed Dahbur (1946-2017), que nos conta “A morte do sapateiro” em honra de Abu Rayya um sapateiro assassinado por Israel #Os seus oito filhos e mãe deles / explodiram juntos”, Hanna Ashrawi (1948) que escreve sobre os jovens enterrados vivos pelos sionistas, Hanan Awad (1951) que “Abril! / Proclama que o meu sangue exala o perfume / Da terra dos antepassados”. O livro termina com Ghassan Zaqtan (1954) e Mahmud Darwich o maior poeta palestino de sempre. Deste último temos o poema “À minha Mãe” e o celebre “Bilhete de Identidade” de que extraímos os versos “Toma nota! / Sou árabe / Os meus cabelos … da cor do carvão / Os meus olhos … da cor do café”.

 

Uma edição do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), uma organização que tem feito um trabalho extraordinário em prol da causa palestina.


 

sexta-feira, 16 de maio de 2025

O Lugar


 

O Lugar por Annie Ernaux

 

Um retrato a grosso, seco e forte do pai da autora escrito nos meses que se seguiram à morte dele. Uma vida que vai da agricultura ao operariado e deste a um pequeno negócio de merceeiro num bairro periférico e pobre. Não se trata de ascensão mas de migração, no mundo em rápida mudança e sacudido por duas guerras mundiais.

 

O fosso de classe que separa um pai de uma filha, um rio caudaloso que divide a cultura popular da cultura erudita da intelectualidade letrada e lida. Duas vidas unidas e divididas, numa dialética sanguínea, em encontros de poucas palavras e pouca interação.

 

Sem pieguices, sem adocicar nem glorificar, este livro apresenta-nos a realidade em bruto, simples, direta, neutra, sem adjetivos, nem sentimentalismos, sem julgamento. Como ela própria o afirma: uma escrita plana.

 

Annie Ernaux (n. 1940), escritora francesa, venceu numerosos prémios incluindo o Prémio Nobel da Literatura de 2022. As suas posições políticas de esquerda, apoiante do movimento dos coletes amarelos e integrada na França Insubmissa, são muito conhecidas. A sua intervenção em favor da Palestina e contra a política genocida do Estado de Israel granjearam-lhe um grande respeito pela coragem das suas intervenções.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Histoires Perculantes


 

Histoires Perculantes

 

Um conjunto de 17 histórias impressionantes e impactantes – Histoires Perculantes – escolhidas e apresentadas por Alfred Hitchcock. Fins inesperados, enredos aterradores, personagens estranhas, estes pequenos contos, de autores diferentes, conseguem atrair-nos e surpreender-nos.

 

Em A Armadilha de Stanley Abbott uma jovem esposa apaixona-se pelo secretário do marido. Um Risco Calculado leva-nos para o mundo dos funambulistas, Uma Família Simpática fala-nos dos caçadores de fortunas alheias, Os Cães de Molicotl apresenta-nos o México rural turístico onde tudo funciona ao contrário, em Questão de Ética um problema moral é resolvido de forma peculiar.

 

A pluralidade de autores concorre para diversificar os estilos de escrita, os cenários da ação, as abordagens formais, as temáticas, a composição dos personagens.

 

Todos os contos são muito curtos, em média pouco mais de uma dúzia de páginas cada um, o que obriga a uma economia de narração e a um ritmo cadenciado.

 

Tudo possíveis guiões para as famosas curtas-metragens do mestre do suspense, o cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980).

   

Publicado nos anos 60 do século XX esta coletânea mantém a frescura de uma obra acabada de publicar.