quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Progressive Portugal

Ler a opinião de estrangeiros sobre o nosso país é algo que faço com muito gosto. É aí geralmente possível descobrir algo de novo sobre a nossa sociedade. Muitos aspectos que tomamos por adquiridos, inquestionáveis e universais surgem então na sua dimensão estritamente local e paroquial. Traços existem que não conseguimos vislumbrar, por estarmos neles imersos, e que apenas nos podem ser revelados por quem tenha suficiente distância cultural para os detectar.

Progressive Portugal, Impressions of a journey through new Portugal, de Rammath N. Pai Raikar é um pequeno livro de memórias da visita que o autor fez a Portugal em 1997. Nele podemos encontrar os habituais louvores à beleza da paisagem, à afabilidade da população, ao sabor da comido e à qualidade do vinho e as tradicionais queixas pelas agruras do clima nortenho, com muito frio e chuva e pela incapacidade de falar línguas estrangeiras, incluindo o inglês.

Apesar de ver em Portugal um conjunto de ganhos materiais e civilizacionais, Raikar não deixa de notar a pobreza e o atraso (“...a rugged farmer ploughing the fields with the help of his enormous bulls” que podemos traduzir por “um duro camponês a lavrar a terra com o auxilio dos seus enormes bois”) e o exagero da devoção religiosa que leva as pessoas a subir de rastos ao Bom Jesus em Braga (“However, its was not clear whether Jesus Christ would receive any pleasure by looking at the blood soaked knees and scratched elbows of the pilgrins” – “Contudo, não fica claro se Jesus Cristo terá qualquer prazer em ver os joelhos e cotovelos ensanguentados dos peregrinos”) que compara com as práticas de auto-flagelação levadas a cabo por devotos hindus nos templos de Tirupati, Sabrimal ou Sharavanbelagola no Sul da Índia.

Raikar, que apesar de jovem se mostra conservador, fica escandalizado com aquilo que classifica de libertinagem da juventude portuguesa. Na sequência de uma vista a uma discoteca escreve, “The warm embraces, hot blooded kisses ... and more! All types of sexual imprudence had reached its peack” (Os abraços quentes, os beijos húmidos … e mais! Todos os tipo de imprudências sexuais tinham atingido o seu pico).

Apesar da minúcia das descrições e do poder de observação demonstrado, o livro de Raikar fica longe de poder ser considerado uma referência neste género de literatura de viagem.

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