domingo, 30 de novembro de 2014
A Missão
A Missão por Ferreira de Castro
Este
livro contém duas pequenas novelas “A Missão” e “O Senhor dos Navegantes”.
A
primeira sobre um dilema moral que uma pequena comunidade sacerdotal enfrenta
durante a II Grande Guerra em França. Na aldeia coexistem dois edifícios idênticos
um alberga uma fábrica onde trabalham centenas de pessoas e no outro habitam os
13 padres. Pressentindo a possibilidade de os alemães bombardearem a localidade
para destruir a fábrica os padres pretendem assinalar com letras bem grandes a
sua residência para assim evitar a destruição e a morte. Mas ao fazê-lo
denunciam o outro edifício como sendo a fábrica condenando os trabalhadores.
Que fazer?
Uma
frase marcante “Quando começamos a interessar-nos profundamente pelo destino
dos homens sobre a terra e a preocupar-nos com as injustiças que eles sofrem
aqui, é que se abalou em nós a certeza de que o sofrimento neste mundo é o
preço da felicidade no outro”.
Na
segunda novela “O Senhor dos Navegantes” encontramos um louco que se julga
Cristo, ou será ao contrário Cristo julgado louco, que faz se lamenta e
atormenta pelas falhas da sua criação.
Etiquetas:
A Missão,
Ferreira de Castro,
Jorge Almeida,
Livro 2009,
O Senhor dos Navegantes
sábado, 29 de novembro de 2014
Dias Felizes
Dias Felizes de Samuel Beckett
Uma
peça assustadora, que nos deixa angustiados e nos faz reflectir no sentido, ou
falta dele, da Vida.
Um
enorme vazio. A terra, como diria Guerra Junqueiro, “seca, deserta e nua”, os dias iguais, as vidas ocas, sem
sentido, numa sucessão de dias falsamente felizes em que há “Tão poucas coisas
a dizer, tão poucas a fazer, e o medo…”, e depois o nada.
O
drama da existência humana com a sua consciência, com a sua inteligência, mas
sem qualquer pista que nos mostre um caminho, que nos dê uma finalidade. E,
contudo, precisamos que “aconteça alguma coisa no mundo”.
Beckett
cultiva uma dramaturgia despojada, um teatro do absurdo, em que vai ao âmago
das perguntas primordiais do Ser Humano sobre a sua identidade e sobre o seu
propósito.
Mas
a sua solução a estas questões é, no fundo, uma resposta derrotista, obcecada
pelo aparente absurdo da Vida, sem se aperceber que o sentido teleológico da
Vida não existe e pelo contrario o objectivo da Vida é ser Vivida e nada mais.
Etiquetas:
Dias Felizes,
Jorge Almeida,
Livros 2009,
Samuel Beckett,
Teatro
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Uivo e outros Poemas
Uivo por Allen Ginsberg
Editado
em 1957 o livro de “Uivo e outros poemas” foi a primeira obra, e talvez a
melhor, de Allen Ginsberg. Foi recebida com um misto de aclamação pelo seu
grupo de amigos e de indignação pelos puristas académicos e pelos conservadores
auto proclamados defensores dos bons costumes e da (falsa) moral pública.
Este
últimos intentaram uma acção judicial contra o editor e contra o autor, pedindo
a interdição de venda do livro, por obscenidade. Centenas de exemplares foram
confiscados ao sair da tipografia e o empregado de uma livraria que vendia o
livro foi preso. O editor também foi preso. No final o Supremo Tribunal da
Califórnia deu razão a Ginsberg e aos defensores da liberdade de expressão.
Uivo
é um poema sobre a sua geração, sobre “as mentes mais brilhantes da minha
geração” levadas ao desespero e à loucura por uma sociedade capitalista, dura,
materialista, repressiva, despojada de valores humanos que nada tinha para lhes
oferecer. Uma sociedade “cuja alma é electricidade e bancos” caminhando para a
guerra nuclear, “cujo destino é uma nuvem de hidrogénio assexuado”. Uma
sociedade que enlouquece e confina os a hospitais como o de Rockland. Um poema
de versos longos e livres, que nos leva aos infernos da droga, da pobreza, da
repressão, da loucura, do desespero, mas que é simultâneamente muito humano,
sentido e vivido.
Dos
restantes 9 poemas, insertos na edição da Relógio d’Água, realço “América” um
texto violentamente crítico da sociedade norte-americana, em que o poeta se
dirige ao seu país, “América eu dei-te tudo e agora não sou nada”, apresentando
uma longa lista de pedidos utópicos, porque sobre causas passadas, “América
liberta o Tom Mooney/ América salva os republicanos espanhóis / América o Sacco
e o Vanzetti não podem morrer”, explicando a sua posição (“América eu tenho um
fraco pelos movimentos operários do mundo / América eu fui comunista quando
miúdo e não me arrependo) e as suas dores (Eu não suporto a minha própria mente)
e acaba desmistificando a propaganda belicista contra a Rússia (“A Rússia quer
comer-nos vivos. O poder da Rússia é de loucos. / Quer tirar-nos os nossos
carros das nossas garagens. / As ganas dela de fisgar Chicago) perguntando “América
isto é correcto?”. Esta paranóia parece que ainda não passou.
Etiquetas:
Allen Ginsberg,
Jorge Almeida,
Livros 2009,
Poesia,
Uivo
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Eu que servi o Rei de Inlaterra por Bohumil Hrabal
Uma primeira em que o narrador
conta a sua vida, primeiro como jovem criado checo, profissão em que aprende a
ver tudo, ouvir tudo mas em simultâneo não ver nada e não ouvir nada. O
ordenado é pequeno mas as gorjetas generosas principalmente quando se serve os comerciantes,
corretores e políticos locais nas suas noites de folia em que se empanturram de
comida e bebida na companhia de lindas meninas.
Depois como jovem adulto que serve o Imperador
da Etiópia enamora-se de uma ginasta alemã com quem casa em plena ocupação
nazi. Os alemães humilham-no mas sobrevive à guerra e é mesmo preso no final o
que lhe permite escapar a uma dura condenação por colaboracionismo. Graças a
uma colecção de selos que a sua mulher roubara a judeus polacos consegue tornar
o seu sonho realidade – torna-se hoteleiro, mas apesar disso não é aceite entre
os seus antigos patrões como um deles.
Esta primeira parte escrita num
estilo pícaro, leve e vibrante está cheia de humor e ingenuidade.
Na segunda parte em que o herói se
retira para a floresta, para as terras anteriormente ocupadas por agricultores
alemães entretanto expulsos, assistimos a uma reflexão profunda sobre o
significado da vida e a escrita altera-se para um tom mais introspectivo, melancólico
e humano.
Hrabal foi um autor controverso
que apoiou simultaneamente o regime socialista checoslovaco, que promoveu as
suas obras, e o grupo oposicionista Carta 77.
Subscrever:
Comentários (Atom)



