domingo, 11 de março de 2018

Luta de Classes em Portugal




Luta de Classes em Portugal por Paul Sweezy


Em Julho de 1975 o eminente Professor Paul Sweezy, célebre marxista norte-americano, que com o seu colega Paul Baran animou durante décadas a revista Monthly Review, visitou Portugal durante duas semanas para se inteirar diretamente sobre o processo revolucionário português.

Dessa viagem e do acompanhamento da revolução portuguesa resultaram vários artigos publicados nos meses de Setembro e Outubro de 1975 na Monthly Review que depois foram traduzidos e publicados, já em 1976, entre nós.

Paul Sweezy começa por desmistificar a imagem desfocada de Portugal “ como país atrasado e subdesenvolvido, que penso ser corrente nos Estados Unidos e noutros países desenvolvidos e que estava firmemente implantada no meu próprio espírito é profundamente enganadora”.

Daí que a revolução portuguesa pudesse ter tido uma importância histórica de alcance mundial “A acontecer uma revolução em Portugal, não seria já uma revolução das do Terceiro Mundo, mas a primeira a verificar-se num país capitalista metropolitano. E esse seria sem dúvida um acontecimento de consequências e implicações de grande alcance”. Poucos meses depois, contudo, o golpe de 25 de Novembro pôs cobro ao processo revolucionário.

Da sua análise das classes em confronto e dos partidos que as representam centra-se na necessidade de unidade entre as forças de esquerda e critica aqueles que não reconheceram o ataque às sedes do Partido Comunista como “sinal quase certo de um perigo terrível” e os que confundiram a importância da contradição principal entre burguesia e povo e as contradições secundárias no seio do povo.

Elogia o MFA mas critica a precipitação na marcação das eleições. A participação de soldados, sargentos e oficiais no processo revolucionário mostra-lhe que uma solução como a do Chile, sangrento golpe militar seguido da reposição do fascismo, seria muito difícil mas antevê outras formas de recuperação do poder pelas velhas elites.

Premonitoriamente escreve que ”Em Portugal, a «situação nacional» é uma economia capitalista em crise. É coerente propor, como faz a Esquerda revolucionária, que o sistema seja derrubado e instituído um processo de transição socialista. Mas, a não ser isso, a única alternativa válida é dar aos capitalistas, sejam eles portugueses ou estrangeiros, o que for necessário para lhes restaurar a confiança e os persuadir a recomeçarem a investir”.

Um livro interessante, escrito a quente durante o PREC, mas cuja análise é um contributo analítico relevante para a História da revolução de Abril em Portugal.

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