quarta-feira, 21 de março de 2018

O Banquete



O Banquete por Platão

O método de Sócrates é o da honesta e sistemática inquirição das ideias dos seus discípulos, revelando assim as fraquezas da lógica por eles utilizada. E, ao mesmo tempo, que destrói os fundamentos do pensamento alheio constrói uma teoria alternativa indisputável porque solidamente ancorada em factos e princípios com que todos concordaram.

Em o Banquete discute-se o Amor durante uma festa organizada para comemorar a vitória de Ágaton no concurso de teatro com a sua primeira tragédia, um tema proposto por Fedro mas publicamente defendido por Erixímaco.

Muitos tomam a palavra antes de Sócrates expondo as suas ideias. Fedro analisa a diferença entre amante e amado, colocando o acento tónico no amante. Pausânias distingue entre “amor celeste” e “amor popular”, definindo o primeiro como “afeição que se concede em vista da virtude”. Note-se que o amor debatido por estes dois primeiros oradores surge entre um amante mais velho e um amado mais jovem. Um amor homossexual e de diferença de idades significativa.

Erixímaco, o médico, vê o amor como harmonia de contrários. Tal como a harmonia surge da conjugação do grave e do agudo, o ritmo do lento e do rápido, o tempo meteorológico do quente e do frio, do seco e do húmido, assim o amor nasce da união de dois pólos.

Tomou a palavra Aristófanes para argumentar ser o Amor o mais jovem dos deuses e a sua teoria da reminiscência. Antigamente os seres humanos eram diferentes e tinha três géneros, masculino, feminino e hermafrodita a que chama andrógeno. Assustados com o poder crescente desses seres poderosos os deuses dividiram-nos em dois. Hoje todos nós buscamos a nossa outra metade com a qual queremos fundir-nos. Assim os antigos seres masculinos são atualmente os homossexuais, as antigas mulheres as lésbicas e os antigos andróginos os atuais heterossexuais.

Ágaton segue um caminho diferente, define a natureza do Amor e daí aduzir os seus efeitos. Do Amor diz que é belo, jovem, de temperamento maleável, de compleição subtil, elegante, corajoso e sábio. Como consequências refere que o Amor é “pai da Volúpia, da Doçura, do Requinte, das Graças, do Desejo e da Saudade”.

Por último Sócrates intervém refutando desde logo os atributos que Ágaton atribuiu ao Amor. Diz que se ama o que se não possui ou o que queremos continuar a ter no futuro e tememos perder. Ora como se ama o belo e o bem, o belo e o bem não podem ser atributos do amor. Afirma que o Amor é fruto da Pobreza e do Engenho.

Para que serve então o Amor das coisas belas e boas? Para ser Feliz. Acaba definindo o Amor como o “desejo de possuir o Bem para sempre”.

O objetivo do Amor é “gerar no Belo” já que “todos os seres humanos são dotados de fecundidade, não só no corpo mas também no seu espírito” e gerar para ser imortal. E a maior imortalidade encontra-se na procura do conhecimento e na obra que se deixa às gerações futuras já que “a beleza espiritual sobreleva à beleza física”.


Um livro que muitos séculos depois de ter sido redigido por Platão mantém plena atualidade pelo tema que desenvolve e pelas respostas que dá. 

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