O Brasil precisa de uma Revolução Socialista organizado
por Mariúcha Fontana
Na senda de Leon Trotsky e de Nahuel Moreno o
PSTU, pequeno partido brasileiro, apresenta as suas teses programáticas. Numa
primeira parte, a mais interessante do livro, caracterizam a sociedade
brasileira desde a independência até à atualidade - “O Brasil é uma semicolónia industrializada que sob a Nova República (governos
Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer) e o neoliberalismo se tornou um país ainda
mais subordinado, dependente e semicolonial”. Não reconhecer a diferença da
orientação dos governos Lula/Dilma dos governos Collor/Temer e meter tudo no
mesmo saco surge como tal exagero que o texto perde muita da sua credibilidade.
A par destes exageros e de análises com que
dificilmente se pode concordar tal a distância com a realidade, o texto chama a
atenção de alguns aspetos dignos de nota que influenciaram duradoiramente a
sociedade brasileira:
i)a independência negociada ao contrário da
restante América Latina que alcançou a independência através de lutas
prolongadas contra a coroa espanhola;
ii) a manutenção da monarquia após a
independência em contraponto com a implantação da República em todo o
continente americano;
iii) a continuação da escravização de
pessoas, sendo o último país americano a aboli-la;
iv) a oposição da burguesia brasileira face
às lutas contra a escravidão e os resquícios feudais;
v) a derrota das sucessivas rebeliões
democráticas no século XIX;
vi) o papel da aliança dos cafeeiros de São
Paulo com os produtores de carne gaúchos no estabelecimento do regime peronista
dos anos 30 salientando “os interesses da
burguesia gaúcha, baseada na pecuária e na venda de carne para o mercado
interno, cumpriu um papel decisivo. Por isso o caudilho desse golpe foi Getúlio
Vargas” mas não reconhecendo o papel progressivo deste governo ao nível dos
direitos trabalhistas e do modelo de desenvolvimento que industrializou o
Brasil e lhe deu uma forte base económica.
Sobre os últimos anos é curioso verificar que
Portugal e Brasil seguiram trajetórias de algum modo idêntico no que respeito a
uma desindustrialização e desnacionalização com
a, consequente, perda de importância na economia mundial “ficando fora dos circuitos do capital destinados aos novos ramos de
produção vinculados à informática…”.
Mas enquanto o Brasil “Voltou a ter a função de produtor e exportador de commodities
(matérias-primas, alimentos e energia) especialmente para a China” Portugal
tem-se especializado no fornecimento de mão-de-obra barata para multinacionais
que operam em Portugal muitas na área dos serviços – as maiores empresas
portuguesas em número de trabalhadores são hoje cal-centers.
Opondo-se a tudo e a todos, preconizando a
revolução permanente, o PSTU é um partido isolado e sem conexão com a massa do eleitorado
brasileiro (teve pouco mais de 50 mil votos nas últimas eleições presidenciais
num país com mais de cem milhões de eleitores).
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