quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O Racismo - Uma introdução


O Racismo – uma introdução por Michel Wieviorka

O racismo abordado nas suas múltiplas dimensões, individual, institucional, social, as suas causas e as suas devastadoras e inumanas consequências.

Wieviorka, judeu francês, filho de sobreviventes do Holocausto, académico e sociólogo, está interessado no tema do racismo pelo prisma do antissemitismo o que lhe confere uma visão muito distante daquela que do racismo têm outros grupos vítimas de racismo, nomeadamente os Ciganos, que nunca são mencionados, ou os Negros.

Esta perspetiva judaica do problema incluiu uma visão benigna dos críticos do movimento antirracista quando estes movimentos não são exclusivamente defensores do antissemitismo ou controlados por esta preocupação central.

Assim parece concordar com Paul Yonnet, muitas vezes acusado de ser um aliado objetivo do partido da extrema-direita racista Frente Nacional de Le Pen, quando este ataca o movimento antirracista com o argumento de este ser apenas uma fachada de apoio ao que chama ideologias em declínio, nomeadamente a socialista e a comunista.

Wieviorka vai mesmo mais longe condenando o SOS Racisme, uma das grandes organizações antirracistas francesas, pela sua justa posição contra a invasão do Iraque em 1991 que era apoiada por Israel e por alguns judeus em França. O antissemitismo de Wieviorka surge, então, compatível com um racismo anti árabe. Trata-se de uma contradição sem explicação uma vez que os árabes são também considerados povos semitas. Recorde-se que essa guerra entre outros efeitos levou à expulsão de mais de 200.000 (duzentos mil!) palestinos do Kwait.

A crítica dos movimentos antirracistas parece, no final, ser a grande razão de ser deste livro, escrito sob a capa de análise do racismo e que, para melhor vender o seu “peixe”, utiliza extensamente uma postura aparentemente neutral e distanciada. Não convence, porém, o leitor atento.

A sua classificação dos vários tipos de racismo não parece ser de utilidade prática, nem tão pouco a sua análise de que hoje o racismo se deslocou para um novo campo: o da cultura. Não evidencia entender que essa transferência é do tipo meramente propagandística e não substancial e que subjacente a críticas aparentemente do foro cultural se escondem posições, pensamentos e ideologias claramente racistas que dessa forma pretendem introduzir ideias que se apresentadas na sua crueza seriam mais facilmente rejeitadas.

Um livro que pouco acrescenta de útil no combate antirracista contemporâneo e que pode mesmo levá-lo a afunilar-se numa das componentes menores, porque relativa a um conjunto muito reduzido de pessoas, desse combate: a luta contra o preconceito antissemita. Uma forte ambiguidade, quando não simpatia, relativamente aos ataques contra o movimento antirracista, tornam partes do texto ambivalente e mesmo reacionário.

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