O Racismo – uma introdução por Michel
Wieviorka
O racismo abordado nas suas múltiplas dimensões,
individual, institucional, social, as suas causas e as suas devastadoras e
inumanas consequências.
Wieviorka, judeu francês, filho de
sobreviventes do Holocausto, académico e sociólogo, está interessado no tema do
racismo pelo prisma do antissemitismo o que lhe confere uma visão muito
distante daquela que do racismo têm outros grupos vítimas de racismo,
nomeadamente os Ciganos, que nunca são mencionados, ou os Negros.
Esta perspetiva judaica do problema incluiu
uma visão benigna dos críticos do movimento antirracista quando estes movimentos
não são exclusivamente defensores do antissemitismo ou controlados por esta
preocupação central.
Assim parece concordar com Paul Yonnet,
muitas vezes acusado de ser um aliado objetivo do partido da extrema-direita
racista Frente Nacional de Le Pen, quando este ataca o movimento antirracista com
o argumento de este ser apenas uma fachada de apoio ao que chama ideologias em declínio,
nomeadamente a socialista e a comunista.
Wieviorka vai mesmo mais longe condenando o
SOS Racisme, uma das grandes organizações antirracistas francesas, pela sua
justa posição contra a invasão do Iraque em 1991 que era apoiada por Israel e
por alguns judeus em França. O antissemitismo de Wieviorka surge, então, compatível
com um racismo anti árabe. Trata-se de uma contradição sem explicação uma vez
que os árabes são também considerados povos semitas. Recorde-se que essa guerra
entre outros efeitos levou à expulsão de mais de 200.000 (duzentos mil!)
palestinos do Kwait.
A crítica dos movimentos antirracistas parece,
no final, ser a grande razão de ser deste livro, escrito sob a capa de análise
do racismo e que, para melhor vender o seu “peixe”, utiliza extensamente uma
postura aparentemente neutral e distanciada. Não convence, porém, o leitor
atento.
A sua classificação dos vários tipos de
racismo não parece ser de utilidade prática, nem tão pouco a sua análise de que
hoje o racismo se deslocou para um novo campo: o da cultura. Não evidencia
entender que essa transferência é do tipo meramente propagandística e não
substancial e que subjacente a críticas aparentemente do foro cultural se
escondem posições, pensamentos e ideologias claramente racistas que dessa forma
pretendem introduzir ideias que se apresentadas na sua crueza seriam mais
facilmente rejeitadas.
Um livro que pouco acrescenta de útil no
combate antirracista contemporâneo e que pode mesmo levá-lo a afunilar-se numa
das componentes menores, porque relativa a um conjunto muito reduzido de
pessoas, desse combate: a luta contra o preconceito antissemita. Uma forte
ambiguidade, quando não simpatia, relativamente aos ataques contra o movimento antirracista,
tornam partes do texto ambivalente e mesmo reacionário.
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