quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Os loucos da Rua Mazur


Os Loucos da Rua Mazur de João Pinto Coelho

Em Jedwabne na Polónia, em plena II Guerra Mundial numa zona ocupada pelos Alemães, um grupo de polacos católicos juntou mais de três centenas de judeus que aí viviam, encerrou-os num grande palheiro, trancou firmemente todas as portas e janelas e ateou o fogo. Morreram 340 pessoas.

Este foi um dos vários crimes racistas cometidos por católicos contra judeus na Polónia no período que vai da independência desse país em 1918 até o final da II Grande Guerra.

O livro é vagamente inspirado neste abominável acontecimento. Um ponto de partida muito prometedor.

Infelizmente Coelho não esteve à altura do que o tema exigia. A sua narrativa é completamente inverosímil, cheia de maniqueísmos, rancores e preconceitos ideológicos. Um desastre. Um verdadeiro manual de como assassinar um bom tema.

O livro está repleto de acontecimentos improváveis oferecidos ao leitor como factos reais. Vejamos: um jovem polaco passa a fronteira para a Eslováquia refugiando-se numa pequena localidade. Pouco depois, escassas semanas, numa aldeia de analfabetos aprende sozinho a escrever eslovaco, que embora parecido com o polaco tem uma grafia diferente, e dedica-se a redigir cartas a quem não sabendo as letras lho pede!! Mais à frente uma jovem camponesa, que emergira da mudez em que vivera mergulhada quase toda a vida, chega a Paris e transforma-se numa intelectual capaz de dirigir uma famosa editora, e o seu acompanhante, também um camponês, num escritor de nomeada!! Quem pode acreditar em tais milagres? Só o escritor e o júri.

O que caracteriza o ser humano é a sua dualidade, a coexistência no mesmo indivíduo do bom e do mau, da verdade e da mentira. O cinzento, como cor da Humanidade, é-o também da grande Literatura.

Coelho porém vê a preto e branco. E confunde o vermelho com o negro. A linguagem em largos extratos do livro parece saída de um manual de propaganda americana dos anos do macartismo. Tudo na URSS é mau, ninguém acredita na Revolução, a força é omnipresente, etc., etc.. Até as palavras utilizadas são as que ouvimos vezes sem conta. Simplesmente panfletário.

A par desta linguagem panfletária, surge o branqueamento do crime. Por um lado através da exclusão da palavra “católico” habilmente substituída por outra mais genérica de “cristão” e por outro lado atribuindo-o à perceção dos católicos de um colaboracionismo dos judeus com os russos. Infame. Até onde chega a torção dos factos e da realidade.

A estrutura do livro segue a máxima hermética do que” está por cima, está por baixo”. O rancor dos católicos contra os judeus reproduz-se no ódio de Eryk contra o seu amigo de infância. Ao crime coletivo corresponde um outro individual.

Este livro, Prémio Leya, vem juntar-se a outros do mesmo pequeno calibre premiados anteriormente confirmando que se trata de galardão sem relevância na Literatura portuguesa. O seu impacto comercial, pelo contrário, parece ser significativo.

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