Os Loucos da Rua Mazur de João Pinto
Coelho
Em Jedwabne na Polónia, em plena II Guerra
Mundial numa zona ocupada pelos Alemães, um grupo de polacos católicos juntou
mais de três centenas de judeus que aí viviam, encerrou-os num grande palheiro,
trancou firmemente todas as portas e janelas e ateou o fogo. Morreram 340
pessoas.
Este foi um dos vários crimes racistas
cometidos por católicos contra judeus na Polónia no período que vai da
independência desse país em 1918 até o final da II Grande Guerra.
O livro é vagamente inspirado neste
abominável acontecimento. Um ponto de partida muito prometedor.
Infelizmente Coelho não esteve à altura do
que o tema exigia. A sua narrativa é completamente inverosímil, cheia de maniqueísmos,
rancores e preconceitos ideológicos. Um desastre. Um verdadeiro manual de como
assassinar um bom tema.
O livro está repleto de acontecimentos improváveis
oferecidos ao leitor como factos reais. Vejamos: um jovem polaco passa a
fronteira para a Eslováquia refugiando-se numa pequena localidade. Pouco
depois, escassas semanas, numa aldeia de analfabetos aprende sozinho a escrever
eslovaco, que embora parecido com o polaco tem uma grafia diferente, e
dedica-se a redigir cartas a quem não sabendo as letras lho pede!! Mais à
frente uma jovem camponesa, que emergira da mudez em que vivera mergulhada
quase toda a vida, chega a Paris e transforma-se numa intelectual capaz de
dirigir uma famosa editora, e o seu acompanhante, também um camponês, num
escritor de nomeada!! Quem pode acreditar em tais milagres? Só o escritor e o júri.
O que caracteriza o ser humano é a sua
dualidade, a coexistência no mesmo indivíduo do bom e do mau, da verdade e da
mentira. O cinzento, como cor da Humanidade, é-o também da grande Literatura.
Coelho porém vê a preto e branco. E confunde
o vermelho com o negro. A linguagem em largos extratos do livro parece saída de
um manual de propaganda americana dos anos do macartismo. Tudo na URSS é mau,
ninguém acredita na Revolução, a força é omnipresente, etc., etc.. Até as
palavras utilizadas são as que ouvimos vezes sem conta. Simplesmente
panfletário.
A par desta linguagem panfletária, surge o
branqueamento do crime. Por um lado através da exclusão da palavra “católico”
habilmente substituída por outra mais genérica de “cristão” e por outro lado
atribuindo-o à perceção dos católicos de um colaboracionismo dos judeus com os
russos. Infame. Até onde chega a torção dos factos e da realidade.
A estrutura do livro segue a máxima hermética
do que” está por cima, está por baixo”. O rancor dos católicos contra os judeus
reproduz-se no ódio de Eryk contra o seu amigo de infância. Ao crime coletivo
corresponde um outro individual.
Este livro, Prémio Leya, vem juntar-se a
outros do mesmo pequeno calibre premiados anteriormente confirmando que se
trata de galardão sem relevância na Literatura portuguesa. O seu impacto
comercial, pelo contrário, parece ser significativo.
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