segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Requiem for the American Dream

Requiem for the American Dream de Noam Chomsky

Um livro que mostra, de forma bem documentada, como a formidável concentração de riqueza nas mãos de um grupo muito pequeno de capitalistas matou o “sonho americano” – o sonho de ascensão social através do esforço individual e do trabalho – transformando a sociedade americana numa estrutura de classes rígida, imóvel, e com um elevado grau de pobreza e desigualdade.

Para levar à prática a vil máxima de Adam Smith “Tudo para mim e nada para os outros”, um pequeno grupo de super-ricos conseguiu capturar o poder político, distorcer a democracia, moldar a ideologia, redesenhar a economia, atacar a solidariedade, gerir os reguladores, marginalizar a população.

Logo no primeiro capítulo temos uma discussão muito interessante sobre os fundamentos democráticos do Estado americano. James Madison, o homem que influenciou decisivamente, a Constituição dos EUA, declarava abertamente que o sistema democrático devia visar “proteger a minoria dos opulentos da maioria”.

Mostra-nos também como através do sistema de impostos o peso do financiamento do estado (i.e. da segurança social, da saúde, da educação e da defesa, etc.) passou dos mais ricos para a classe média. Ao isentar, ou reduzir, os impostos sobre lucros das empresas, sobre os dividendos distribuídos e sobre as mais-valias obtidas, os mais ricos, cujos rendimentos advém exatamente destas fontes de aplicação de capital, passaram a contribuir menos para a sociedade, deixando o fardo nos ombros da classe média. Uma forma de concretizar a máxima “Tudo para mim nada para os outros”.

Esta estratégia foi conseguida com um falso discurso que iguala “lucros” a “empregos”. Assim se justifica a descida dos impostos sobre os mais ricos e articula-se da seguinte forma – “se aumentarmos os impostos sobre os lucros, os dividendos, as mais-valias o investimento diminuiu e, consequentemente, o emprego”. A verdade é que países com impostos elevados sobre lucros, dividendos e mais-valias não têm taxas de desemprego mais altas, o que têm é taxas de pobreza menores.

O papel da propaganda, i.e. da comunicação social, do marketing, da manipulação, é também salientado. O pai da estratégia de controlo do pensamento foi Edward Bernays que escreveu “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e das opiniões das massas é um elemento essencial da democracia” e também “A nossa deve ser uma liderança democrática administrada pela minoria inteligente que sabe como arregimentar e guiar as massas. Trata-se de governo pela propaganda? Chamem-lhe, se o preferirem governo pela educação”.

Apela à participação, recordando que todas as grandes conquistas foram obtidas através da mobilização e da luta das pessoas, através das suas organizações sociais, sindicatos, associações culturais, ou políticas.

Noam Chomsky (n. 1928), o grande intelectual dissidente norte-americano, filósofo, Professor de Linguística, tem sido uma voz sempre presente nas lutas sociais e políticas e um apoiante da Paz. Toda uma vida dedicada à ciência e ao ativismo.

Um livro fundamental para perceber a sociedade norte-americana, os mecanismos subjacentes à concentração de riqueza e a forma como podemos alterar este estado de coisas.

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