Requiem
for the American Dream de Noam Chomsky
Um livro que mostra, de forma bem
documentada, como a formidável concentração de riqueza nas mãos de um grupo
muito pequeno de capitalistas matou o “sonho americano” – o sonho de ascensão
social através do esforço individual e do trabalho – transformando a sociedade
americana numa estrutura de classes rígida, imóvel, e com um elevado grau de
pobreza e desigualdade.
Para levar à prática a vil máxima de Adam
Smith “Tudo para mim e nada para os
outros”, um pequeno grupo de super-ricos conseguiu capturar o poder
político, distorcer a democracia, moldar a ideologia, redesenhar a economia,
atacar a solidariedade, gerir os reguladores, marginalizar a população.
Logo no primeiro capítulo temos uma discussão
muito interessante sobre os fundamentos democráticos do Estado americano. James
Madison, o homem que influenciou decisivamente, a Constituição dos EUA,
declarava abertamente que o sistema democrático devia visar “proteger a minoria dos opulentos da maioria”.
Mostra-nos também como através do sistema de
impostos o peso do financiamento do estado (i.e. da segurança social, da saúde,
da educação e da defesa, etc.) passou dos mais ricos para a classe média. Ao
isentar, ou reduzir, os impostos sobre lucros das empresas, sobre os dividendos
distribuídos e sobre as mais-valias obtidas, os mais ricos, cujos rendimentos
advém exatamente destas fontes de aplicação de capital, passaram a contribuir
menos para a sociedade, deixando o fardo nos ombros da classe média. Uma forma
de concretizar a máxima “Tudo para mim nada para os outros”.
Esta estratégia foi conseguida com um falso
discurso que iguala “lucros” a “empregos”. Assim se justifica a descida dos
impostos sobre os mais ricos e articula-se da seguinte forma – “se aumentarmos
os impostos sobre os lucros, os dividendos, as mais-valias o investimento
diminuiu e, consequentemente, o emprego”. A verdade é que países com impostos
elevados sobre lucros, dividendos e mais-valias não têm taxas de desemprego
mais altas, o que têm é taxas de pobreza menores.
O papel da propaganda, i.e. da comunicação
social, do marketing, da manipulação, é também salientado. O pai da estratégia
de controlo do pensamento foi Edward Bernays que escreveu “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e das opiniões das
massas é um elemento essencial da democracia” e também “A nossa deve ser uma liderança democrática administrada
pela minoria inteligente que sabe como arregimentar e guiar as massas. Trata-se
de governo pela propaganda? Chamem-lhe, se o preferirem governo pela educação”.
Apela à participação, recordando que todas as
grandes conquistas foram obtidas através da mobilização e da luta das pessoas,
através das suas organizações sociais, sindicatos, associações culturais, ou
políticas.
Noam Chomsky (n. 1928), o grande intelectual
dissidente norte-americano, filósofo, Professor de Linguística, tem sido uma
voz sempre presente nas lutas sociais e políticas e um apoiante da Paz. Toda
uma vida dedicada à ciência e ao ativismo.
Um livro fundamental para perceber a
sociedade norte-americana, os mecanismos subjacentes à concentração de riqueza
e a forma como podemos alterar este estado de coisas.
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